Você já se perguntou se a Igreja deveria continuar engajada nas guerras culturais? Afinal, nunca iremos erradicar o mal do mundo e, às vezes, parece que a água está entrando em nossos barcos mais rápido do que podemos esvaziá-los.
Além disso, toda vez que ganhamos terreno em uma frente, parece que perdemos terreno em outra.
Por que se preocupar em travar essas batalhas demoradas, emocionalmente desgastantes e financeiramente caras? Não seria melhor se envidássemos todos os nossos esforços para ganhar os perdidos, causando assim um impacto eterno e irreversível?
Alguns também argumentariam que as coisas só vão piorar antes da volta de Jesus e, como sabemos que Ele voltará muito em breve, não adianta tentar desacelerar, muito menos parar, o ataque do mal. Estamos apenas tentando ‘evitar o inevitável’.
Como devemos responder a essas objeções e preocupações?
Quando se trata da objeção teológica, ou seja, que as coisas só vão piorar antes da volta de Jesus, tenho duas respostas.
Primeiro, embora existam versículos que falam de trevas e apostasia antes da volta do Senhor, também há versículos que falam de uma colheita gloriosa de almas entrando no reino no fim dos tempos. Algumas passagens até falam de uma luz brilhando intensamente no meio da escuridão total.
Resumindo, conforme entendo as porções relevantes das Escrituras, o fim dos tempos será caracterizado por extremos paralelos do bem e do mal, da atividade divina e da atividade satânica. Dificilmente vejo uma imagem de apenas melancolia e desgraça.
Em segundo lugar, nenhum de nós sabe quando o Senhor voltará, o que significa que não podemos dizer: “Sabemos que esta é a geração final, então por que se preocupar em impactar a cultura?”
Cheguei à fé 51 anos atrás, e nos disseram que Jesus voltaria a qualquer momento. As profecias estavam todas se alinhando e o livro cristão mais vendido da época deixou claro que estávamos no final dos últimos dias. Isso foi há mais de meio século!
Pense em como a Igreja ficaria completamente paralisada se todas as gerações tivessem essa mesma mentalidade. “Por que se preocupar em tomar uma posição? Vamos sair daqui a qualquer minuto!”
Essa não pode ser uma maneira bíblica de pensar.
Tendo abordado essa objeção teológica, deixe-me responder à questão mais ampla de por que nós, como seguidores de Jesus, devemos nos envolver nas guerras culturais.
Por que devemos lutar contra o aborto?
Por que devemos nos opor ao racismo?
Por que devemos enfrentar a injustiça?
Por que devemos nos opor ao ativismo LGBTQ+?
Primeiro, se não engajarmos a cultura, a sociedade entrará em colapso. Afinal, se somos chamados a ser o sal da terra e a luz do mundo (Mateus 5:13-16), sem nós, o sal vai embora e a luz não brilhará. E com a cultura em queda livre, não demorará muito para que a anarquia reine, antes que nossas liberdades sejam tiradas – talvez até mesmo nossos filhos sejam tirados.
Em segundo lugar, se não resistirmos a uma sociedade pecaminosa, perderemos nossas consciências e nossas almas. Como podemos ver o mal em plena exibição diante de nossos olhos e não fazer nada? Não fazer nada é dessensibilizar e desumanizar a nós mesmos.
Terceiro, como Paulo escreveu em Efésios 5:8-9, “antes vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor. Andem como filhos da luz (pois o fruto da luz é encontrado em tudo que é bom, certo e verdadeiro).” Está em nosso DNA espiritual fazer o que é certo e bom porque, por nossa própria natureza renascida, somos luz.
Isso é o oposto da fábula do escorpião e do sapo, em que o escorpião pica o sapo sentado nas costas do sapo enquanto o sapo atravessa o rio nadando, resultando na morte de ambos.
Quando o sapo perguntou por que ele fez isso, o escorpião explicou que não resistiu ao desejo, pois essa era sua natureza.
Da mesma maneira (mas totalmente oposta), defender a justiça e lutar pela misericórdia é o que fazemos como luz.
É a nossa natureza.
Quarto, fazer o bem também significa opor-se ao mal, e há muitos versículos no Novo Testamento que claramente nos chamam a fazer o que é bom. Como, então, esse bem se parece em ação? Como seria fazer o bem se você fosse um proprietário de escravos que se tornasse cristão? Apenas dando ao seu escravo um copo de água fria? Ou libertando seu escravo?
Quinto, ao nos opormos ao mal, ao denunciarmos a injustiça, ao nos opormos à imoralidade, estamos nos tornando mais semelhantes a Jesus, sendo conformados à Sua imagem. Isso faz parte de nossa preparação para a eternidade.
Sexto, Deus deixa claro repetidas vezes em Sua Palavra que o tipo de espiritualidade que Ele está procurando não consiste em longas orações ou exibições piedosas de jejum. Em vez disso, Ele diz claramente, nosso jejum deve ser o pano de fundo para nossas ações santas, libertando os cativos, cuidando do órfão e da viúva, enfrentando a injustiça nos tribunais (ver Isaías 58).
Sétimo, assim como alimentamos os famintos e doamos aos pobres, ajudando aqueles que podemos, mesmo sabendo que nunca iremos erradicar a fome e a pobreza, fazemos o mesmo com as guerras culturais. Nós ajudamos aqueles que podemos ajudar. Salvamos a vida de um bebê quando podemos. Temos um currículo ímpio de educação sexual removido de nossa escola local. Expomos o tratamento discriminatório de um colega minoritário no local de trabalho.
Cada vida conta e cada batalha vencida tem significado.
Oitavo, visto que a missão do Messias inclui levar justiça às nações, e visto que somos Sua voz e Suas mãos e pés neste mundo, buscar a justiça faz parte de nossa missão divina (ver Isaías 42:1-8).
Nono, defendendo os oprimidos e feridos, demonstramos a profundidade de nosso relacionamento com Deus. Como o Senhor disse a respeito do piedoso rei Josias: “Fez justiça ao pobre e ao necessitado e os ajudou, e tudo lhe correu bem. Não é isso que significa me conhecer?, diz o Senhor.” (Jeremias 22:16) Esse é um versículo realmente impressionante.
Décimo, quando nos opomos ao mal e fazemos o bem, estamos funcionando como testemunhas do Senhor, chamando assim a sociedade para prestar contas e estabelecendo um padrão para os outros seguirem. Isso também faz parte de nosso chamado no evangelho.
A realidade é que, até a volta de Jesus, estaremos em um cabo de guerra com o mundo, às vezes fazendo progressos reais e às vezes perdendo terreno.
Mas, de qualquer forma, devemos manter nosso controle e manter nossa determinação, querendo entregar as coisas para a próxima geração em melhor forma do que as recebemos, sabendo que a vitória final aguarda o retorno do Senhor.
E enquanto também mantemos a Grande Comissão em primeiro lugar em nossos corações e mentes, reconhecemos que Jesus não nos chamou simplesmente para ganhar os perdidos, mas para fazer discípulos.
É assim que os discípulos vivem.
Fonte: Barrabás Livre