Como o Espírito Santo nos guia? Como discernir Suas instruções?
O pentecostalismo ensina um tipo místico e subjetivo de comunicação do Espírito. Mas será que é isso que a Bíblia ensina?
Leia este 29º artigo da série Fuja do Pentecostalismo e descubra.
Alguns Pensamentos sobre ser Guiado pelo Espírito
Prof. Herman C. Hanko
Existem várias expressões similares que estão aparecendo com crescente freqüência na imprensa religiosa.* Lamentavelmente, elas são encontradas freqüentemente nos lábios de conservadores; isto é, aqueles que sempre foram geralmente reconhecidos como o lado conservador da religião contra os liberais. Essas expressões parecem piedosas, e deixam uma boa impressão na mente de muitos quanto à ortodoxia daquele que as usa. Tais expressões, tenho observado, estão tendo um efeito considerável também sobre o povo em geral, pois tenho ouvido a expressão (ou alguma forma dela) dos lábios de várias pessoas em mais de uma ocasião. Assim, esse não é um assunto de pouca importância.
As expressões as quais me refiro são algo semelhante a isso:
– “Estou esperando a orientação do Espírito Santo nessa questão”
– “Estou pronto para seguir a liderança do Espírito”
– “O Espírito colocou no meu coração que…”
– “O Espírito deve nos mostrar o caminho nesse assunto”
– “Oremos por direção do Espírito”
Você já deve ter ouvido ou lido tais expressões, ou similares. Todas têm isso em comum: falam de viver e tomar decisões por meio da orientação do Espírito Santo. Isso soa muito piedoso e parece indicar uma vida espiritual forte.
Falando de modo geral, quando alguém fala sobre ser guiado pelo Espírito, ou levado pelo Espírito, ou esperando que o Espírito mostre o caminho, ele está falando de um problema particular que está enfrentando. Eu tenho, por exemplo, lido essa expressão em conexão com pessoas que estavam tentando resolver se deveriam ou não deixar uma denominação que estava obviamente passando a abraçar uma doutrina falsa. Elas permaneceram em sua denominação, mas diziam estar esperando que o Espírito lhes mostrasse o que deveriam fazer. Ouvi a mesma expressão usada repetidamente em conexão com uma grande quantidade de renovação litúrgica em nossos dias. Devemos, assim é dito, dar ao Espírito livre controle em nossos cultos de adoração. Devemos liberar o Espírito, pois a Igreja tem por muito tempo acorrentado o Espírito em formas de adoração estereotipadas. Novamente, a expressão é às vezes usada em apoio dos Programas de Ênfase Evangelística, em várias igrejas onde as pessoas são urgidas a alterar radicalmente toda a estrutura política da Igreja, de forma a dar ao Espírito mais lugar para operar. Somente então o evangelho se tornará eficaz e terá uma influência livre sobre as comunidades ao nosso redor. Somos então lembrados que o Espírito é como o vento, que “assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai” (João 3:8).
Esse tipo de coisa me perturba grandemente. E existem, parecem-me, problemas insuperáveis em tudo isso. Eu posso, por exemplo, pensar e afirmar que o Espírito me diz para permanecer numa denominação apóstata durante um tempo ainda. Mas meu irmão que pertence à mesma congregação e está tão determinado em manter a verdade quanto eu, me informa que o Espírito lhe disse que chegou o tempo de partir e procurar a pregação pura da Palavra. Quem tem o Espírito? Eu ousaria dizer-lhe que ele está confundindo a liderança do Espírito com algumas influências demoníacas de um tipo ou outro? E se ele me disser que não estou sendo guiado pelo Espírito em minha decisão de ficar, mas que estou agindo com segundas intenções? Quem estará certo? Quem pode dizer?
Nem adianta fazer do assunto todo uma questão de consciência, pois a consciência de cada homem dirá algo diferente. E alguém pode concluir que é impossível dizer como ou onde o Espírito opera, e impossível saber se o Espírito está operando de alguma forma. Mesmo que o Espírito aja como o vento, isso significa que nunca podemos decidir com alguma certeza onde o Espírito deve ser encontrado? Isso tudo me parece levar ao lamaçal do subjetivismo espiritual e a um tipo de agnosticismo moral de forma que, com respeito às questões centrais do nosso chamado, não temos forma de determinar com certeza o que o Espírito tem a dizer e para onde está guiando.
Se levada ao seu extremo, essa é uma situação sem esperança.
Existe uma resposta para tudo isso. Essa resposta é um princípio que tem sido estimado pelas Igrejas da Reforma desde os princípios do século XVII, quando os Reformadores apresentaram suas visões sobre esse assunto. E a resposta é simplesmente essa: as Escrituras são a única regra de fé e prática [vida]. Recebemos da parte de Deus o padrão objetivo das Escrituras. É a Palavra de Deus para nós, que cobre tudo da nossa vida e chamado. É algo que todos podem entender. É uma regra e cânon para nós em nossa vida. Foi dada com uma lâmpada para os nossos pés, e uma luz para o nosso caminho. Ela sempre mostra o caminho.
De fato, o Espírito opera no coração do povo de Deus de tal forma que os leva e guia. Paulo até mesmo fala em Romanos 8:14 do fato que “todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”. Mas existe uma firme verdade que deve ser mantida e defendida: nunca existe direção do Espírito à parte da Palavra de Deus. O Espírito age sempre e somente em conexão com a Palavra – nunca à parte dela. De fato existe direção dada pelo Espírito no coração e vida do povo de Deus. Mas isso nunca pode ser um testemunho do Espírito divorciado do testemunho objetivo das Escrituras. Quando a obra do Espírito é isolada dessa forma das Escrituras, não existe nenhuma obra do Espírito de forma alguma; e o homem se entrega aos seus desejos pessoais, imaginações selvagens e coração enganoso. O Espírito age em conexão com a pregação da Palavra acima de tudo. Ele renova, ilumina, restaura e aplica essa Palavra. Mas, quando um crente se sujeita às Escrituras e se curva humildemente diante da Palavra de Deus, então, mesmo em sua vida pessoal, ele pode esperar que o Espírito fale com ele dirigindo-o em sua vida e chamado, mas sempre apontando para ensinos específicos das Escrituras. Não existe nenhuma luz interior, nenhuma revelação subjetiva, nenhum discernimento pessoal que o Espírito dê à parte das Escrituras. Elas são uma firme rocha na qual a nossa vida deve estar alicerçada. Quando o Espírito nos diz o que as Escrituras dizem, então, e somente então, sabemos que estamos sobre terreno seguro.
Quando alguém alega, portanto, permanecer numa denominação apóstata que não pode ser resgatada aos caminhos da verdade e da justiça; quando ele sabe que um testemunho fiel da verdade pode acontecer somente por meio da separação, então ele pode estar certo que o Espírito não lhe dirá para permanecer mais um pouco. E ele não deve falar sobre esperar a direção do Espírito nesse assunto.
Quando um homem está intentando liberar o Espírito (parece-me estranho como alguém que está comprometido à fé na obra soberana do Espírito possa falar de “liberar” o Espírito) por meio de renovações litúrgicas e alterações nas estruturas eclesiásticas por causa de vários programas evangelísticos – tais como Explo 72** ou Key ’73** –, então ele faria melhor indo primeiramente à Palavra de Deus, e se debruçando diante dela para descobrir o que a Escritura requer com respeito à estrutura institucional da Igreja, princípios da adoração a Deus e programas evangelísticos. Se ele deseja ardentemente a direção do Espírito, o Espírito lhe mostrará imediatamente que esse tipo de coisa é contrário à Palavra de Deus, e que o Espírito nunca agirá de tais formas. De fato, se persistir, ele não estará liberando ou seguindo o Espírito, mas desafiando-o e seguindo seu próprio caminho prepotente e arrogante a despeito do que o Espírito disse na Palavra de Deus.
Devemos, João nos diz em sua primeira epístola, testar os espíritos para ver se eles procedem de Deus. Existem muitos espíritos hoje que são chamados de Espírito Santo. A Palavra de Deus dirá. Dirá a qualquer um que queria ouvir. Dirá a alguém que seja iluminado pelo Espírito. Paulo fala precisamente de tudo isso em 1 Coríntios 2:10-16, uma passagem que está precisamente no contexto de sua pregação da Palavra de Deus aos coríntios. Ele escreve: “Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais. Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo”.
Sem dúvida, estou ciente do fato que existem problemas específicos da vida, que não estão especificamente revelados na Escritura. Refiro-me, por exemplo, ao fato que um jovem pode, em seus anos de escola secundária, crer que foi chamado para ser um ministro do evangelho. Provavelmente falará sobre o assunto com seus pais e seu pastor; e eles, se forem pessoas piedosas, lhe dirão que deve procurar conhecer a vontade de Deus nessa questão. Ele pode, presumo, ser instado a seguir a orientação do Espírito para buscar uma resolução do seu problema. Ele nos assegurará rapidamente que não existe nenhuma passagem específica na Escritura que tenha o seu nome nela, e que aponte objetivamente que ele foi chamado para o ministério. E existem mais problemas como esse na vida. O que fazer? Não temos um caso aqui onde, em questões específicas, a orientação do Espírito é à parte do testemunho objetivo da Palavra de Deus?
Não, mesmo isso nunca acontecerá. Em primeiro lugar, a decisão toda é feita dentro do contexto das Escrituras que falam do fato que os homens de Deus dentro da Igreja são chamados por Deus para serem embaixadores de Cristo na pregação da Palavra. E isso é importante e não deve ser subestimado. Em segundo lugar, tal jovem deve fazer sua decisão em oração, buscando cuidadosamente descobrir a vontade de Deus por uma consideração objetiva de muitas circunstâncias diferentes. O Senhor deve lhe dar os dons e talentos para fazer essa obra. O Senhor deve lhe dar um amor pelo ministério e um desejo de estudar. O Senhor deve abrir o caminho para ele estudar por muitos anos. Essas coisas e muitas outras são evidências objetivas da vontade do Senhor. Mesmo então, quando tudo o mais for dito e feito, nenhum homem é chamado para o ministério até que tenha finalmente recebido tal chamado objetivo da própria Igreja de Cristo. Ele deve responder, quando for ordenado, que crê ter sido chamado pela Igreja de Cristo e, portanto, pelo próprio Cristo.
E assim se dá em tudo da vida.
A história da Igreja de Cristo é uma história repleta com exemplos de esforços feitos por parte dos ímpios para afastar a Igreja e os crentes do padrão objetivo da Palavra de Deus. Toda heresia é uma tentativa de fazer isso. Toda perversão de doutrina e prática tem isso como a sua origem perversa. Mas se alguém abandona o padrão objetivo da Palavra de Deus (e a história mostra como isso é verdadeiro), ele tem apenas duas alternativas. Uma é estabelecer o padrão da razão como o árbitro final de questões da vida. Isso é racionalismo; e a evidência é clara que a Igreja teve sua porção de racionalistas no decorrer dos séculos. A outra é estabelecer os sentimentos, as emoções, as convicções internas como um padrão da verdade e da vida. Isso tem sido historicamente pietismo ou misticismo, ou, como pode ser apropriadamente chamado em nossos dias, neopentecostalismo. Essas são as únicas duas alternativas reais que existem. Abandonando as Escrituras, a pessoa recorrerá à razão ou à luz interior. Mas ambas são essencialmente a mesma coisa; pelo menos nesse respeito, ao fazer do próprio homem o juiz final da verdade e do correto, quer pela mente do homem, ou pelos seus sentimentos internos. E ambas são subjetivismo. Uma total falta de esperança.
Existem muitos que desaprovariam veementemente quaisquer tendências para com o neo-pentecostalismo em suas vidas. Todavia, eles repetidamente falam da orientação do Espírito como divorciada das Escrituras, e tornam-se, para a confusão de todos, pentecostais de fato. Elas podem não falar em línguas; e podem não crer na fé que cura. Mas quando se divorciam da Palavra de Deus, caem na mesma armadilha mortal.
Sejamos, então, guiados pelo Espírito, pois somos filhos de Deus. Mas estejamos muito, muito certos que sabemos e entendemos que a orientação do Espírito vem através da luz iluminadora das Escrituras, a Palavra de Deus.
Notas do tradutor:
* O autor está escrevendo em 1973. A situação mudou muito de lá pra cá e, infelizmente, para pior.
** Conferência evangélica patrocinada pela Cruzada Campus para Cristo. Aconteceu de 12 a 17 de junho de 1972, em várias localidades em Dallas, Texas. Foi grandemente criticada por evangélicos conservadores devido ao envolvimento ecumênico de protestantes e católicos no evento, bem como o uso de música rock. Billy Graham falou em seis ocasiões diferentes durante o evento.
*** Outro movimento evangelístico ecumênico.
Fonte: The Standard Bearer, Volume 49, Issue 11, Março de 1973.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto