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A Máscara da Ciência Moderna

A Máscara da Ciência Moderna

Buscando não somente compreender a doutrina da Depravação Total do Homem, mas corroborá-la com o texto bíblico, abandonando o estudo realizado em Gênesis, capítulo 3 (cujo relato da Queda da humanidade deu-se juntamente com a Queda de Adão, o qual, como cabeça, nos representava e, com ele, todos nós pecamos, caímos), adentraremos agora no estudo do capítulo 6, do mesmo livro de Gênesis.

Primeiramente, saliento a estranheza provocada na maioria das pessoas, muitas delas crentes praticantes e convictos, quanto ao conceito bíblico de depravação humana. Há uma tentativa, especialmente entre os mais letrados, de conhecer a natureza humana não pela realidade, por aquilo possível de se ver e observar no dia a dia, muito menos pelos relatos bíblicos¹, mas pelo arcabouço acadêmico e teórico da sociologia, antropologia, psicologia e pedagogia, muitas vezes não passando de construções mentais viciadas e, em alguns casos, delirantes. Não há de se descartar essas ciências como instrumento para a compreensão do homem², mas, entretanto, ao abandonar-se a experimentos e metodologia dirigida (muitas vezes formadas sobre falsos pressupostos), quase sempre com o objetivo de confirmar ou atestar a veracidade do esquema especulativo proposto, compromete-se todo o seu resultado.

Infelizmente as ciências humanas têm se tornado, especialmente em países dominados pela mentalidade progressista, em um ajuntamento de postulados ideológicos onde a verdade, a exatidão, e a fidelidade aos fatos têm dado cada dia mais lugar à exploração artificial de um pensamento impossível e inalcançável, utópico, onde a realidade e o aspecto natural tornam-se necessariamente marginalizados e rejeitados dentro do espectro metodológico dos estudos; uma maneira de afugentá-los quanto ao possível dano que promoveriam no intento dominante, na convicção ou crença do ideólogo. Abandona-se o conhecimento adquirido pela prática, pelos estudos, pela observação, entregando-se ao adestramento acadêmico onde o princípio não é o da neutralidade nas pesquisas, mas o de se levar a cabo, até as últimas consequências, a defesa do pressuposto sugerido (digo, sugestionado), mesmo havendo, durante o seu curso investigativo, evidências do seu engano ou invalidação. E somente isso já seria o suficiente para comprovar que a doutrina da Depravação Total do Homem é não somente crível, mas real e incontestável.

O conceito de ciência deturpou-se nos últimos cem anos ao ponto de não haver, em muitos centros de pesquisa, nada mais do que propaganda, de marketing dogmático, travestido de academicismo.Tentando separar os trabalhos acadêmicos de qualquer relação com Deus, a humanidade embrenhou-se em uma luta insana e destruidora contra a própria razão, contra a própria natureza, consigo mesma. Por isso não passam de uma desculpa esfarrapada, sem pé nem cabeça, com o único fim de sustentar o insustentável. Pode parecer apenas ignorância, mas há um objetivo central em todo esse método e empenho “cientifíco”: destruir a civilização ocidental e, mais especificamente, a tradição judaico-cristã, e a formulação de uma nova construção social, a partir da destruição daquela e dos valores que, no mínimo, são o fundamento de toda a existência humana.

Ao invés de haver uma incessante busca pelo saber, pela verdade, pelo conhecimento, afigura-se um sistema de simples reverberação do postulado, uma difusão do pensamento dominante ou establishment, uma ditadura do pensamento acadêmico conduzida por uma elite controladora, capaz de incluir ou excluir, o que vale dizer, garantir ou não os financiamentos públicos e privados, daqueles inseridos ou excluídos em seu organismo ideológico. A competência e o mérito não representam nada, bem como a plausibilidade das teorias e sua concreta veracidade, bastando ao candidato certificar-se de ser conivente e colaborar para a perpetuação do delito, certo de que sua mediocridade não será percebida nem repudiada, mas alimentada pelo acordo tácito de domesticação intelectual. E quanto mais confuso, hermético e delirante, maior será a sua aceitação entre os seus pares, uma vez que a obtusidade ficará camuflada pelo exagero ou bizarrice.

As ciências humanas produzem atualmente acadêmicos como uma fábrica de plásticos geram penicos, com a diferença de que os penicos cumprem um propósito natural, em prol da humanidade, enquanto os chamados cientistas asseguram-se, a si mesmos, uma factícia estabilidade em uma máquina emperrada e inútil; via de regra, se torna na finalidade, em um tipo de nobreza superior ao conhecimento, sem qualquer objetivo real de benefício social ou humanitário, limitando-se a ser instrumento e meio para o controle, para o apoderamento de corpos e almas.

Com isso, não há, de minha parte, uma sabotagem ao sistema acadêmico, o que é desnecessário, pois ele mesmo se encarrega de se autossabotar, mas a constatação da existência de vícios a impeli-lo ao desastre e impedi-lo de realizar sua nobre missão. Parece uma generalização fútil, exatamente pelo fato de não ser eu mesmo um acadêmico, mas ao travar conhecimento com muitos deles, fica patente a incapacidade dos mesmos para exercer aquilo que dizem defender e, na verdade, desconhecem-na por completo. Não são todos, claro, talvez nem a maioria, mas uma boa parcela instalada no Brasil faz o que a torna inexistente e ineficiente para o mundo como um todo: a não-ciência ou o cientificismo vulgar e corrompido.

Basta-lhes um diploma ou um título para certificarem-se do abandono absoluto do rigor acadêmico. O título traz em si mesmo todo o arcabouço suficiente para tomá-lo por infalível e inerrante e, a partir dessa premissa, excluí-lo da necessidade de ouvir, ler e pensar sobre qualquer outra coisa não relacionada à sua “deidade”. Ainda mais se estiver ancorado pela nomenclatura, pelos pares a conferir-lhe genialidade e idoneidade sem a necessidade de prová-las. É como um curso de hipnose ou autoajuda: você não precisa ver nem entender nada além daquilo que lhe é dito e conferido como verdadeiro, mesmo que seja a mais sórdida e amoral mendacidade e charlatanice.

Ao contrário do que deveria ser, muitos cristãos entregam-se ao pensamento absurdo de reconhecer o mérito de um raciocínio não pelo seu conteúdo ou argumento, mas pelo fato do seu interlocutor ser um diplomado, uma autoridade. Conhecida como argumentum ad verecundiam é uma falácia lógica, das mais toscas, das mais improváveis, mas na qual os cristãos parecem ter uma predileção especial pelo seu mecanismo de inquestionabilidade. Acontece de falharem em vários aspectos, principalmente por depositarem credibilidade no autor, um homem sujeito a erros como ele mesmo, mas revestido de uma quase divindade a torná-lo infalível, ao invés de depositá-la no verdadeiro Autor, Deus. Centenas, milhares de anos de experiência cristã vívida, do testemunho de milhões de pessoas, relatos intermináveis de uma fé autêntica, não sujeita a titubeios e mudanças, apresentam-se insignificantes diante da solidez e da segurança do interlocutor³.

Não importa se ele solapou fatos, se desprezou evidências, se manipulou dados, se concentrou seus esforços em moldar um disfarce, blindando-o de ver reconhecida a sua incompetência ou insanidade. Os loucos gritam por não haver nada mais a fazer além de silenciarem-se, acontece de este estado anulá-los; então, vociferam, histrionizam, ensandecem, perturbam-se, ameaçando desmascarar os relutantes como ignorantes: “vejam aquele ali, é um burro! Não tem diploma, não faz parte da academia, mas teima em acusar-me!”. É a típica confirmação do dito: “ganhar no grito!”; e não há lenitivo que atenue a tensão pragmática da autoridade, a não ser a aceitá-lo e ao seu discurso sem hesitação. A acusação nunca é à fragilidade ou inexistência do argumento, mas ao indivíduo ameaçado, pego e acuado na própria traquinagem, não lhe resta outra saída a não ser urrar e mostrar os dentes ameaçadoramente. Como aquela criança que, após molhar as calças, olha assustada para a mãe enquanto o líquido quente escorre-lhe pelas pernas. Ela não tem como dizer: “não fiz isso”, mas o acadêmico picareta pode dizê-lo investido de uma autoridade, tornando-o inquestionável, ainda que todos possam ver-lhe os fundilhos ensopados.

Por que o crente insiste em moldar a sua fé à ciência, sem antes cuidar para saber se o que lhe é apresentado realmente não passa de impostura? Por que se dá atenção ao primeiro novo rumor em detrimento de séculos e séculos de experiência e confirmação da verdade, pelo corpo de Cristo? Acredito haver uma boa dose de vaidade e soberba em se fazer entendido daquilo que nem mesmo o seu proponente compreende. Parecer esperto ou inteligente é mais fácil do que sê-lo. E se há uma estrutura moldada para a validação de uma sapiência anacrônica, preenchendo os requisitos da própria implausibilidade, por que se esforçar pela busca da verdade se um arremedo dela é facilmente alcançado?
Com a resposta, você, se não for demasiadamente preguiçoso.

Notas:

1- A Bíblia apresenta o homem como ele é, sem floreios, sem suavizá-lo, sem fantasias, mas retrata-o em seus detalhes mais íntimos; os quais podem ser confirmados pela realidade, pela brutalidade pecaminosa empreendida diariamente por qualquer um de nós contra a ordem natural e santa criada pelo bom Deus.

2- Incompreensível é o descarte que o mundo moderno dá à teologia, sendo ela a rainha de todas as ciências, sem a qual qualquer outro instrumento se torna, no mínimo, inadequado ou impróprio.

3- E, por que não dizer do alto grau de loucura; ao ponto de fazer-se imperceptível aos olhos alheios, dada a entronização da sua personalidade? Heidegger, com o seu antissemitismo empolado, inspirou a construção do Estado-Nazi-fascista; assim como Marx, e seu delírio coletivista, fomentou Stálin, Hitler, Mussolini, Pol-Pot e Mao, para ficar apenas em alguns exemplos, dentre tantos outros de assassinos e tiranos.

Fonte: Kálamos