Anos atrás, um missionário americano reformado na Europa reclamou comigo que na igreja que ele havia plantado havia apenas uma família. “Bem”, eu disse, “por que você não encoraja os solteiros a se casarem?”
Ele me deu uma resposta amedrontadora: “Isso não funciona. A maioria é mulher e elas não precisam desse encorajamento. Mas não há homens disponíveis. Às vezes os homens aparecem nas reuniões, mas não duram muito. E os poucos homens que temos não estão interessados em casamento”.
Só consigo pensar em uma solução para um problema na igreja: o pastor deve pregar a solução bíblica para o problema. “Talvez você devesse começar a pregar e ensinar sobre família. Assim iria encorajar os homens a se casar, ter família e filhos, e se tornar adultos responsáveis”. “Eu faço isso”, ele disse. “Prego e ensino sobre família o tempo todo. Ensino sobre os relacionamentos entre marido e esposa, entre pais e filhos, prego sobre o dom maravilhoso que é a família, prego sobre como Deus abençoa as famílias”.
“Hummm”, eu disse, “os materiais sobre relacionamentos irão atrair e encorajar principalmente as mulheres. Mas e quanto ao que atrai os homens? Você prega e ensina propósito, aquilo para o qual a família foi criada? Você ensina o mandamento de multiplicar e encher a terra, ter muitos filhos e por meio deles dominar a cultura? Você ensina e prega sobre a função e propósito educacional da família, que é criar filhos no Senhor? Você os ensina sobre o propósito da família como instituição de Deus para as decisões e ações econômicas? Você os ensina sobre os pais como protetores e conquistadores? Você os ensina sobre a função da família como agência de bem-estar, a única instituição ordenada por Deus para cuidar do pobre e necessitado?”
Em nossa conversa, ficou claro que ele não havia ensinado tais coisas. Ele estava um tanto desconfortável em falar sobre a questão de ter filhos pelo fato de a Europa estar superpovoada e, uma vez que a situação financeira de muitos havia decaído, ter muitos filhos seria um fardo pesado para jovens pais. Falar sobre ter filhos, ele disse, não era um assunto popular na Europa.
Quanto à função econômica da família, ele não tinha certeza se isso era verdade, porque nunca foi ensinado a respeito no seminário; e, além do mais, isso era uma questão de “gestão financeira”, não do Evangelho, e ele não deveria pregar nada que fosse além do Evangelho.
A respeito da educação, eles tinham boas escolas públicas na Europa, de modo que esse fardo poderia ser retirado das costas dos pais para que eles pudessem focar nas coisas espirituais do Evangelho; além disso, a única alternativa viável era o homeschooling, e ele estava preocupado se as crianças educadas em casa poderiam depois encontrar trabalho na economia europeia. Ele não poderia assumir a responsabilidade de dar aos pais conselhos que depois se provassem impraticáveis.
“Protetores e conquistadores” não era algo claro para ele, até porque nós não devemos tentar impor uma ditadura cristã, só devemos nos preocupar com a salvação das almas e, para todos os efeitos, a Europa tem taxas de crime muito baixas. E quanto ao bem-estar? A mesma resposta: A Europa tem um maravilhoso sistema social, e não há nenhuma necessidade de se preocupar com o pobre, o governo está fazendo um trabalho irretocável nesse sentido.
“Eu acho”, disse ele, “que não deveríamos tentar assustar as pessoas com exigências legalistas sobre o que devem fazer enquanto famílias. Precisamos primeiro mostrar a elas a beleza da família enquanto relacionamento; um lugar onde as pessoas encontram o amor e o conforto de Deus, e onde Deus está cuidando delas como um Pai amoroso. Quando fazemos isso, e temos famílias, então seremos aptos a ensiná-los ainda mais, a respeito de suas obrigações”. Em outras palavras, ele começou jogando fora todas as razões pelas quais a família deve existir, e então tentou recriá-la sem o seu propósito e significado. E então se admirou de que os homens não estivessem empolgados com tal retrato da família e não fossem à sua igreja; e mesmo aqueles que iam, não estavam inclinados a constituir família. Sua explicação era que os homens daquela nação eram muito imaturos, e era por isso que não se apaixonavam por sua visão de família.
Ele nunca parou para considerar minhas palavras: Esse tipo de conversa sobre relacionamentos, beleza, conforto, ser cuidado, etc., pode ser empolgante para as mulheres, mas não é tão excitante para os homens. Aposto que ele nem mesmo pensou sobre o fato de que pode haver uma correlação direta entre sua pregação e prioridades em relação à família, e a proporção de gênero em sua igreja. Os homens foram criados diferentes das mulheres. E as prioridades do homem, no íntimo de seu ser, são bem diferentes das prioridades da mulher. A mulher foi criada para ser ajudadora; portanto, em sua essência — independente do que digam as feministas — estarão focadas nos relacionamentos. No contexto da família, o foco da esposa inevitavelmente estará nas questões internas, na organização, nas tarefas, nos relacionamentos, no conforto e descanso que o lar proporciona para os seus membros. Uma mulher não precisa de cursos especiais em relacionamentos interpessoais para que possa reconhecer emoções e sentimentos profundos como amor, ódio ou indiferença. Ela pode entender as nuances de comportamento e ler nas entrelinhas melhor do que o marido; é por isso que ela foi posta sobre o lar, como déspota da casa, como a Bíblia a chama, porque aquele é o seu reino, sua esfera de soberania. Uma mulher pode entender as pessoas melhor do que um homem, porque ela tem essa habilidade em seu ser; ela sabe quando alguém está satisfeito, ou inquieto, ou cansado, ou ansioso, ou precisa de conforto.
Isso não significa que os homens não devam estar atentos aos relacionamentos, amor, conforto, e sentimentos. Mas, pela realidade da natureza criada do homem e da mulher, um homem pode e deve aprender com sua mulher e confiar nela nestas áreas. Esse é o reino dela, é sua esfera de ação. Não é contra a natureza que Paulo compare seu cuidado com seus filhos na fé ao cuidado de uma mãe que amamenta (1Ts 2:7); e Deus mesmo compara seu amor por nós ao de uma mãe lactante. As mulheres têm e sabem de alguma coisa que os homens não têm e não sabem. E essa coisa as define, e também determina quais serão as prioridades e interesses delas. Uma mulher sabe da questão dos relacionamentos melhor do que um homem, e ela é naturalmente atraída a uma igreja onde se pregue e se ensine sobre relacionamentos.
E quanto ao homem? Ele tem os mesmos interesses naturais e prioridades? O que meu amigo missionário nunca entendeu é que a família não foi criada para ser primeiro relacionamento e depois alguma outra coisa mais. A família foi criada para ser uma instituição, e essa instituição tem um propósito e função na ordem de Deus para as coisas: expandir o domínio do povo de Deus sobre o mundo inteiro (Gn 1:27-28). O propósito e a função foram primeiro dados ao homem, e ele deveria ser o principal encarregado e executor de tal função. E tal como a mulher foi, de um modo ímpar, projetada e capacitada para discernir e entender as questões de relacionamentos, o homem foi projetado e capacitado, de maneira única, para cumprir o propósito de dominar a terra. A posição de pai e marido ocupada pelo homem não foca primariamente em relacionamentos — foi por isso que ele recebeu uma esposa. A responsabilidade dada ao homem é a de assegurar-se de que sua família cumpra seu propósito no plano de Deus de conquistar a terra. O próprio ser do homem é orientado para o exterior, não para o interior. Seus interesses podem estar no trabalho e na guerra, não em sentimentos e relacionamentos. Embora as mulheres também possam ter parte nos negócios (Pv 31) e na guerra (Jz 4), pela ordenança da Criação esse é terreno do homem, essa esfera é de sua responsabilidade e autoridade.
E, portanto, uma igreja que prega somente relacionamentos e nenhum propósito irá tender a atrair principalmente mulheres, e não homens. E quando se prega que a família é principalmente relacionamento, mas o propósito e as funções da família não são pregados, os homens influenciados por tal pregação não estarão interessados em constituir famílias. Essa é simplesmente a natureza das coisas criadas.
Aquele missionário, obviamente, não deve ser responsabilizado. Ele é somente um produto — uma vítima — de toda uma geração da igreja americana em geral. Durante os últimos 50 anos — se não mais — a igreja adotou uma ideologia sentimental, que rebaixa o cristianismo ao nível da excitação emocional, superficial. O mandato de domínio dado ao homem para que construa uma civilização que exiba a glória de Deus — a “cidade sobre os montes” dos nossos antepassados — foi jogado fora. O cristianismo agora é todo ele sobre “relacionamento com
Jesus”. Mesmo nos círculos reformados e com teólogos reformados, essa visão imatura e deformada do cristianismo está sendo enfatizada e pregada. Relacionamentos acima de propósito, essa é a essência daquilo que é pregado nos púlpitos e ensinado nos seminários de hoje.
Essa abordagem, necessariamente, e pela natureza mesma das coisas, não trará muitos homens às igrejas; e os homens que ela trouxer serão imaturos e confusos sobre seu verdadeiro chamado na vida. Fatalmente, aqueles que preservaram algo de sua masculinidade irão deixar as igrejas e partir para o mundo em busca de propósito para sua vida, em busca de uma base para trabalhar e conquistar, simplesmente porque a igreja não apresentou a eles base alguma.
Algum tempo atrás escrevi um artigo chamado The Demographics of Irrelevance, no qual assinalei o problema de muitas igrejas com várias mulheres jovens e praticamente nenhum homem, incluindo igrejas nas quais a maioria das famílias educam os filhos em casa. Isso foi há dois anos. E as coisas não mudaram. As igrejas — e as igrejas reformadas também — continuam pregando “relacionamento com Jesus”. Alguns pregadores reformados insistem em chamar a Bíblia de “conversa de bebê”, e então se derramam em convulsão emocional sobre quão grande é Jesus ao suprir nossas necessidades infantis. O cristianismo foi reduzido à irrelevância e imaturidade; não há nenhum chamado claro para a batalha, por mudar o curso da história e por construir um mundo e cultura cristãos. E os jovens homens continuam deixando as igrejas aos montes. Quando não há nenhuma mensagem masculina nas igrejas, poucos homens irão permanecer nela. Simples assim.
A Bíblia tem muito pouco a dizer sobre um “relacionamento com Jesus”. De fato, Jesus mesmo falou sobre um relacionamento pessoal entre ele e seus discípulos somente em duas passagens, e deu uma explicação muito simples do que é um relacionamento pessoal com ele: obediência à sua vontade. Em Mateus 12.46-50 ele explica como alguém pode se tornar membro de sua família: “Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe”. E então novamente, em João 15.14: “Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando” (Jo 15.14). Não há na Bíblia nenhuma teologia específica de “relacionamento pessoal com Jesus”; esse relacionamento pessoal é muito simples: faça o que ele manda. Isso não é baseado em emoções ou sentimentos. É baseado no compromisso autoconsciente de fazer o que ele ordena.
Bem, o que ele ordena está descrito na Bíblia inteira. E começa com o mandato de domínio para que o homem e sua família encham a terra e a subjuguem. E isso significa que há propósito e chamado para que o homem, como pai e marido trabalhe, lute, eduque, cuide, construa, lance fundamentos, proteja, conquiste, estabeleça. Há um propósito para a vida do homem. E esse propósito se encaixa com a inclinação do coração do homem para fazer tais coisas. O coração de um homem arrepia-se com a possibilidade de trabalhar e conquistar. E quando a família não é apresentada a ele como uma instituição de domínio — isto é, uma instituição para trabalho e conquista — mas somente como um lugar para “relacionamentos”, ele não se empolga com isso. Ele irá deixa a igreja e buscar outro lugar para trabalhar e conquistar.
Ironicamente, a despeito do ressurgimento do interesse pela família cristã nas últimas décadas, as igrejas falharam em produzir famílias cristãs. Como o missionário acima, muitas igrejas nos Estados Unidos têm tido a mesma — ou uma crescente — taxa de divórcio, pais e maridos irresponsáveis, crianças que abandonam a fé, e jovens mulheres que não conseguem encontrar maridos cristãos. Apenas falar sobre a família não é suficiente; o que deve ser pregado é o propósito da família no plano de Deus. Homens verdadeiramente masculinos são produzidos quando há um significado na vida que transcende sua própria alma pequenina e sua própria família. Homens obcecados com relacionamentos e emoções não são de fato masculinos. É por isso que o fato de alguns pregadores reformados estarem tentando restaurar a masculinidade recorrendo a obscenidades ou outros comportamentos agressivos no palco simplesmente demonstra desespero; mas isso também revela uma profunda ignorância sobre a definição bíblica de homem. Não é o linguajar grosseiro que faz o homem; o que faz um homem é propósito e significado. Porque o mandato de domínio dado ao homem não é pregado, o propósito da família está ausente da pregação e ensino que emana dos púlpitos das igrejas. A família criada e ordenada por Deus não pode ser definida fora do pacto de domínio. A família não tem nenhum propósito a menos que o homem tenha um propósito de trabalhar e conquistar.
Quando todo o cristianismo se resume à salvação individual — e, portanto, a tarefa de encher e subjugar a terra não é levada em conta — o propósito da família se torna simplesmente secundário. Se o Evangelho é limitado a salvação pessoal, não há uma função clara para a família. Se um homem não é encorajado a conquistar, ele não precisa da única instituição que pode ajudá-lo a conquistar.
É fato que tem se falado cada vez mais e mais sobre a família nas últimas décadas. Mas porque esses discursos são equivocados quanto às prioridades — põem-se os relacionamentos acima dos propósitos — o resultado é que isso está na verdade destruindo a família, ao invés de edificá-la. Tanto no campo missionário, quanto nas igrejas que temos em nossos próprios lares, veremos ainda mais daquilo que meu amigo missionário experimentou em sua igreja. A menos, é claro, que nossos pregadores, professores e seminários tomem novamente o mandato de
domínio como o propósito para o homem e sua família, e passem a pregá-lo.
Fonte: Monergismo