Um dos grandes desvirtuamentos originados do iluminismo, com sua ênfase no homem e na razão, foi a necessidade de ter. O possuir passou a ser o mote social. Quando Marx diz que o trabalho transforma o homem e este transforma o meio, ele consolidou a ênfase dita. Daí para frente presenciamos um avanço do homem sobre o meio ambiente com ajuda da revolução industrial que começara anos antes e vimos nascer uma necessidade altamente dolorida, o apego.
Nossa sociedade está tão apegada aos meios de produção e ao produto realizado que impôs sobre o homem a mentalidade que, sem possuir, nada é. Hoje, alinhado com essa tendência de ter está o fazer. O homem busca, através do fazer, o ter. Isso reduz o homem a um mero mecanismo autômato dentro do sistema e totalmente alienado dos grandes princípios da vida.
Como o homem precisa ter para se realizar, então é gerada uma dor e um sentimento desgastante que é o apego. O apego está por trás de grande parte do sofrimento do homem moderno. Sabe que mesmo que possua muito, um dia ficará sem nada ao se deparar com a morte e a presença dAquele a que tudo pertence.
Quando deixamos o princípio bíblico de “possuir tudo sem ser dono de nada”, entramos nesta espiral descendente do apego. Lutamos para preservar aquilo que conquistamos, lutamos sem nos darmos conta que quando algo nos é tirado a dor é quase insuportável. Quantos crimes são cometidos entre casais por não haver disposição de repartir patrimônio? A violência aumenta assustadoramente não somente por causa da pobreza, mas porque está no inconsciente de toda uma geração a necessidade de tudo ter sem nada perder ou repartir. A valorização do homem tem se dado pelo patrimônio que possui. Hoje filhos pedem para pais não pararem seus carros em frente à escola, pois os mesmos são velhos ou possuem modelos desatualizados. Estes jovens estão apegados à estética somente e assim gabam-se de nada. Ter uma roupa de marca é sinal de destaque e de atratividade.
O apego traz sofrimento, aprisionamento e baixa qualidade de vida. A melhor maneira de vivermos esta vida maravilhosa é o desapego. Saber que, enquanto vivermos neste mundo, nada mais somos do que mordomos/gerentes daquilo que o Criador nos emprestou. O apóstolo Paulo disse em 2 Coríntios 6:10: “… como nada tendo, e possuindo tudo”. Exatamente isso. Paulo vai nos dizer em 1 Coríntios 3:22-23: “tudo é vosso, vós sois de Cristo e Cristo de Deus”.
Com isso não estou incentivando a preguiça, a falta de vitalidade para o crescimento pessoal e na obra de Deus, mas sim colocando as coisas em patamares razoáveis.
Muitos se apegam à família, bens, trabalho, posição social, etc. Nada destas coisas são permanentes em si mesmas. Famílias são destruídas ou esfaceladas por mortes ou separações, bens perdem valor ao longo do tempo ou são mal negociados, trabalho é algo altamente instável e posição social nada é. Acredito que precisamos enxergar a vida como uma dança. Ela se mostra diferente a cada momento e precisamos aprender a dançar a dança da vida. Livres em cada situação. Se precisar mudar de cidade ou emprego, isso precisa ser visto como oportunidade, não como pequenas mortes. Se um bem foi perdido ou deformado, preciso entender que é somente um bem, não uma vida inteira. Se a perda se apresentar com sua face mais negra, preciso me alegrar no tempo que tivemos de convívio e nas boas lembranças das coisas e momentos significativos que vivemos.
Tudo é de Deus. A vida é de Deus. As oportunidades são de Deus. Então, somos somente gestores de tudo isso. Precisamos fazer o melhor para glória de Deus e trazer para nossas vidas uma das máximas de Paulo: “sei estar contente em toda e qualquer situação”.
Apegar-se somente a Cristo, pois Ele é eterno, justo e verdadeiro.
Soli Deo Gloria.
Fonte: Ministério Força Para Viver