Em nossos dias a idéia de espiritualidade é uma coisa “afetada” – irreal. É que os padrões do mundo é que determinam isso. Ser espiritual é ser “vencedor” (meio super alguma coisa). É alguém que simplesmente pisa em todos os problemas (dificuldades, enfermidades, etc.) É alguém que sorri o dia todo, enfim, uma fantasia. A Bíblia não é assim. Hoje vemos pessoas representando um ideal mundano de “sucesso” e “felicidade”. Gente assim não tem nada para ensinar a pessoas simplesmente normais como nós. O ensino bíblico de forma nenhum é assim.
A Bíblia não nos mostra super-homens (como muitos mostram hoje), ela nos mostra homens parecidos conosco. Isso é bom, se o Espírito Santo através da Palavra os fez vencer, nós também venceremos. Olhemos Paulo, por exemplo, ele é um homem ímpar no plano de Deus. Não houve outro homem igual a ele, nenhum ser humano recebeu uma revelação maior. Como ele mesmo se mostra? Como ele se descreve? “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porem não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos” (2Co 4.8,9). Paulo descreve a si mesmo como que estando em muitos momentos triste, atribulado, perplexo, abatido… Ele diz que se desesperou: “Porque não queremos irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porque foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida” (2Co 1.8). A idéia é que pessoas como Paulo não passam por essas experiências.
Na verdade, a vida de homens como Paulo é que mostra o poder de Deus, o crescimento e a capacitação pra viver a vida como um filho de Deus que a Palavra produz. Ele é fraco, mas diz que quando é fraco, então é forte. Muitas vezes entristecido, mas sempre alegre. Não tendo nada, mas possuindo tudo. “Como enganadores, e sendo verdadeiros; como desconhecidos, e entretanto, bem conhecidos; como se estivéssemos morrendo e contudo eis que vivemos; como castigados, porém não mortos; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2Co 6.8-10).
Como podemos ver, a diferença está em sermos tão somente recipientes do tesouro divino; as bençãos espirituais em Cristo, de uma relação verdadeira e submissa a Palavra. Por quê devemos mediante a Palavra saber lidar com a depressão e os problemas da vida? Porque jamais deixamos de ser vasos de barro: “Temos porém este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2Co 4.7). O propósito de Deus é grande, seu poder é ilimitado, mas Ele não anula e não anulará o vaso de barro. Deus põe o tesouro espiritual em Cristo, em vasos de barro. É por isso que um paradoxo sempre estará presente na vida de um verdadeiro filho de Deus: “Como entristecidos, mas sempre alegres, nada tendo, mas possuindo tudo…” A fraqueza de um homem que está numa real e verdadeira relação com Deus, jamais limitará o poder de Deus.
A idéia secular de sucesso e vitória que hoje domina a igreja, dá a idéia de que onde há tristeza não pode haver alegria; que onde houver lágrimas, não pode haver louvor… Isso é completamente falso. O vaso é de barro, mas há um tesouro nele. Por isso, quando a tristeza e a depressão chegar, devemos nos voltar para a suficiência do tesouro divino. Se nos apegarmos assim a Deus e a sua Palavra, poderemos em todo o nosso viver experimentar esse maravilhoso paradoxo do viver do verdadeiro filho de Deus.
Devemos almejar que o tesouro em nós seja mais e mais visto neste mundo sem Deus, mas também que o vaso fraco de barro que nós somos seja mais e mais visto por todos. Sim, que o mundo veja o tesouro em nós, mas sem deixar de enxergar com clareza, o vaso de barro que nós somos. Que este paradoxo seja tão claro em nossa vida, como deve ser verdadeira a nossa relação com Deus.