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A subutilização do Evangelho gera o arminianismo e o pentecostalismo

a-subutilizacao-do-evangelho-gera-o-arminianismo-e-o-pentecostalismo“Assim diz o SENHOR: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma; mas eles dizem: Não andaremos.” (Jeremias 6:16)

“Não esperamos nenhum novo mundo em nossa astronomia nem nenhuma nova Bíblia em nossa teologia.” Augustus H. Strong

O cenário evangélico atual é algo bem distinto da herança da Reforma Protestante. Hoje se fala muito em “poder, cura, batalha espiritual e vitória financeira”, mas na verdade é ínfimo o potencial que se está utilizando das Escrituras nas igrejas contemporâneas, em sua maioria. Quase toda pregação no presente é subjetiva, superficial e ilusória, mas não por isso impopular. Pelo contrário, de tão pop influencia as igrejas antes tradicionais — presbiterianas, congregacionais e batistas. O arminianismo [1] e o pentecostalismo [2] com seus tentáculos midiáticos e seu forte sectarismo abraçam praticamente todos os pontos de pregação. O que muitos não atentam é que nem sempre foi assim e que é preciso retornar às antigas veredas em busca de obediência e temor.

Não precisa ir muito longe para captar bons exemplos de igrejas. Décadas atrás a sistematização doutrinária pregada nos púlpitos era mais harmoniosa doutrinariamente, simples e prática. Porém, a condição pós-moderna impôs uma convivência com a pluralidade, a fragmentação, a heterogeneidade e contradições sem igual. De tempos em tempos nasce um novo modismo, transitório como fogo de palha. Muitos pregadores que seguiram ou seguem este “fogo estranho” exalam sua fumaça presentemente, e os “adoradores” em “carne e em mentira” amam aspirá-la.

A variedade de estilos das manifestações doutrinárias mina a harmonia doutrinária ortodoxa e confessional do protestantismo histórico. A bandeira evangélica contemporânea para um observador externo é complexa, cheia de contradições, incertezas e simulações inquietantes. Os evangélicos ironizam e rejeitam suas próprias raízes. As premissas sólidas são simplesmente jogadas no lixo como algo não prioritário. O espírito antidogmático reina e todos adormecem na sonolência da irracionalidade. Doutrinas apostólicas perenes e universais são consideradas heresias pelos seguidores de “novos apóstolos” e suas seitas. Há quase 500 anos Lutero já dizia: “Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”, hoje se diz o inverso e com “autoridade”.

Nunca foi tão válida a expressão “os fins justificam os meios”. A igreja pós-moderna focaliza-se nos modos e meios de representações que provêm das experiências subjetivas dos evangélicos e fazem disso sua formação “doutrinária”. A teologia de hoje não tem uma estrutura sólida e bem construída, ela é muito mais uma “demolidora irresponsável” e desconstrucionista. A identidade evangélica é fluida, plural, paródia e fragmentação dos antigos cristãos, apoiada em fundamento de areia das novas roupagens das velhas heresias. O protestantismo histórico deve retomar seu protesto contra tais coisas pensando na Igreja da próxima geração, como frisou Francis Schaeffer: “Se não tornarmos clara nossa posição, com palavras e obras, em favor da verdade e contra as falsas doutrinas, estaremos edificando um muro entre a próxima geração e o evangelho”.

Infelizmente as velhas e novas heresias são atraentes pelo seu poder em priorizar as questões de “poderes, cura e mercado”. A formação lobo-pastoral prioriza a “inovação” como um ingrediente vital para o sucesso de uma igreja, como se fosse um negócio. Se o povo está sedento por “milagres econômicos” ou curas, os lobos identificam a oportunidade e realizam uma estratégia de marketing religioso. Se uma igreja consegue lotar galpões de “fiéis”, outros lobos analisam o “produto” da concorrência e propõe novos “produtos” para captar mais fiéis. E assim vira uma bola de neve, sem trocadilho. Tal mentalidade eclesiástica é fundamental para lidar com a concorrência religiosa. Sob este viés a igreja é pensada como uma estratégia empresarial. Agem como cães que não temem o que está escrito em Gálatas 6.7: Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.

Seguindo o planejamento estratégico diabólico de crescimento de “igreja-negócio”, a oportunidade atual identificada para explorar os fiéis é o neopentecostalismo [3], o pentecostalismo e o arminianismo. Alguns são mais fervorosos que outros, mas todos, em certa medida, não fazem bom uso da prudência cristã bíblico-doutrinária e detêm a verdade. — Ó homens, até quando tornareis a minha glória em vexame, e amareis a vaidade, e buscareis a mentira? (Salmos 4:2)

A teologia contemporânea acabou com as confissões de fé, com os cânones, com a boa exegese, com a interpretação histórico-gramatical, com o Princípio Regulador de Culto, os valores tradicionais bíblicos, a teologia clássica e perene. O que vale é a “teologia de liquefação”, instantânea fusão, efêmera, mutante, customizada ao sabor dos infiéis. As igrejas querem ser agradáveis a todo custo, tornam-se personalizadas, cada um crê de um jeito diferente e ao seu modo e gosto. Tudo é válido e espirituoso. É muito provável que Deus, segundo os exemplos da história da Igreja, manifeste uma reação à altura dessa inquietação efêmera revertendo todo esse cenário para a Sua glória. Oremos por um avivamento genuíno! — Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento? (Provérbios 1:22)

Deus certamente acabará com os excessos e o “algo mais” dessa geração incrédula. Sua poderosa mão abolirá os ruídos e interferência de Sua majestosa Palavra. Deus pode e varrerá essa instabilidade, porque a boca do SENHOR o disse. Saberemos quando entrarmos num verdadeiro avivamento quando o SENHOR varrer o arminianismo, o pentecostalismo e o neo-pentecostalismo da face da terra, pois, [Deus] destróis os que proferem mentira (Salmos 5:6).

O certo é que a igreja atual passa por um momento sem precedentes na sua história devido a pluralidade e o caos das teologias. Mas graças ao Eterno que essa “sujeira evangélica” não encobriu a visão de toda igreja, — Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal (Romanos 11:4), — há pregadores, teólogos, escritores e irmãos multiplicadores que não se deixaram contaminar ao ponto de perder o foco da mensagem que impacta e muda a vida dos eleitos. Os propagadores da boa teologia e do bom caminho, antes de tudo, são formadores de conceitos e opiniões.

Faz parte da competência da boa teologia reconhecer e combater os modismos, as tendências antibíblicas, comparar os pontos de vista histórico, cultural e social das gerações. As velhas heresias vão ganhando novas roupagens, e a atual geração de evangélicos vêm reproduzindo formas de misticismos e arminianismo, que sem dúvida prevalecem. Hoje em dia, raramente se busca produzir pregações e estudos bem estruturados exegeticamente, ricos em doutrinas fundamentais da fé cristã, “tal coisa é trivial”, pensa a massa evangélica. O que eles não sabem é que estão apenas reproduzindo heresias já condenadas por cânones bíblicos. A teologia pós-moderna não passa de rebelião, negando a suficiência das Escrituras. Nesse momento, a teologia sólida e perene passa a ser ignorada como algo estranho e transforma-se em interpretações aleatórias e independentes, porém, ao mesmo tempo, dependente do repertório e do gosto da massa evangélica confiante. Tais não ouvem Jeremias 7.4 que diz: Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este.

A Igreja não precisa de uma teologia baseada na desordem, na irracionalidade e falta de coerência, ela não precisa de pastores psicólogos que pregam de forma intuitiva e comunicam somente amenidades aos ouvintes. Deus requer de seus profetas que quebrem muitos paradigmas CONTRA O MUNDO e não que inovem em sua Palavra. Não precisamos de um novo Evangelho. O respeito, a reverência e o temor ao estudar e propagar o Evangelho é a marca característica dos genuínos pregadores.

Frases para meditar:

“Tão grande é a depravação do homem não-regenerado que, embora não haja nada que ele necessite mais do que o evangelho, não há nada que ele deseje menos.” R. B. Kuiper

“Se você crê somente no que gosta do evangelho e rejeita o que não gosta, não é no evangelho que você crê, mas, sim, em si mesmo.” Agostinho

Notas:

[1] Arminianismo: Em suma, nega a doutrina da predestinação incondicional e sustenta que Deus elegeu aqueles a quem previu que creriam em Cristo. Sustenta que Cristo morreu por todos e nega a expiação particular. Declara que a graça é resistível e que pode ser perdida.

[2] Pentecostalismo: É um movimento religioso de dentro do evangelicalismo avivalista e triunfalista, que coloca ênfase especial em uma experiência direta e pessoal de Deus através do Batismo no Espírito Santo.

[3] Neopentecostalismo: É uma versão carismática mais mística e mercenária que o pentecostalismo. Enfatiza a batalha espiritual, a confissão positiva, maldições hereditárias, possessões demoníacas, cura, poder e prosperidade. É o movimento mais antibíblico do evangelicalismo.