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Fuja do Pentecostalismo – Parte 24

fuja do pentecostalismo parte 24Continuando a série Fuja do Pentecostalismo, hoje descobriremos o que o Movimento Pentecostal tem em comum com o Catolicismo Romano, porque ele representa um retorno à Roma, e quais as implicações escatológicas dessa tendência.

Um artigo esclarecedor e um importante alerta à Igreja Cristã.

Evangelicalismo, Movimento Carismático e Retorno à Roma
John W. Robbins

O derramamento do Espírito Santo no Século XVI levou milhões de pessoas a redescobrirem a mensagem objetiva da Bíblia acerca da justificação somente pela fé. Essa doutrina invadiu e transformou a mente dos homens com o poder divino e mudou o curso da história. A Reforma Protestante foi fundada sobre a base da restauração da primazia, supremacia e total suficiência da Bíblia e da justificação pela fé.

Ninguém coloca em discussão o fato de a Reforma Protestante ter restabelecido completamente a pureza da fé e da prática que é apresentada na Bíblia. Nem sempre os Reformadores concordavam entre si. Nem sempre eram consistentes em cada área. Tampouco a igreja abandonara de vez todos os erros da Igreja/Estado Romana da Idade Média. Mas apesar das diferenças e das inconsistências, os reformadores estavam totalmente unidos quanto à importância da Escritura e da justificação somente pela fé — seus significados objetivos e sua centralidade absoluta para a fé cristã.

Há uma tendência na natureza humana pecaminosa de afastar-se do Evangelho objetivo para o subjetivismo religioso, de deslocar o foco central de Cristo para a experiência cristã. Isso foi o que aconteceu na grande “decadência” da Igreja Primitiva. E a mesma evolução tem dado lugar entre os herdeiros do movimento protestante.

O Erro das Seitas

Antes ainda da saída de cena dos reformadores, diferentes grupos ou seitas (defensores de ideais de igrejas livres) começaram a proliferar-se dentro do movimento protestante e a devastar as igrejas recém plantadas. Esses grupos diziam que Lutero havia feito um bom começo quando restaurou a doutrina da justificação pela fé, mas nutriam o sentimento de que ele ficara apenas no meio do caminho e que deveriam seguir adiante, rumo ao mais alto e ao mais profundo.

Mas Lutero compreendia que eles se equivocavam acerca das doutrinas-chave do protestantismo — somente a Bíblia, e a justificação somente pela fé — e, no que lhe concernia, se estavam errados nestes pontos, em tudo estavam errados. “Seja quem for que se afaste do artigo da justificação não conhece a Deus, é um idólatra”, escreveu Lutero. “Uma vez removido este artigo, nada mais permanece senão o erro, hipocrisia, impiedade e idolatria, ainda que tenha aparência de estar à altura da verdade, da adoração a Deus, santidade, etc…” (What Luther Says [Concordia Publishing House, 1959], Vol. II, 702-704).

Os mestres sectários não negavam a justificação como um passo inicial na vida cristã. O erro deles residia no antigo descaso da justificação como se fosse aquilo sobre o que o crente dá inicio e depois passa para coisas superiores. Com isso, a justificação pela fé nem de longe ocupava uma posição central. O foco deles afastava-se para além da obra de Cristo para a ação deles próprios, do objetivo para o subjetivo.

No tempo dos reformadores, os munzeristas e os anabatistas radicais exaltavam grandemente a obra e os dons do Espírito. O clamor deles era: “O Espírito! O Espírito!”; mas Lutero respondia: “eu não seguirei para onde o espírito deles lhes dirige”. Eles separavam o Espírito da Palavra, da Escritura. Eram os carismáticos do Século XVI.

Lá, então, encontramos Osiander. No inicio ele foi discípulo e colaborador de Lutero, mas rompeu com o ensino da Reforma da justificação por imputação (externa) da justiça e começou a ensinar que o crente é justificado pela habitação de Cristo e pela sua justiça essencial disso decorrente. Tanto Lutero como Calvino reconheceram que o ensino de Osiander representava uma volta, em principio, à idéia católica romana de justificação. Algumas das seitas, desses grupos ou igrejas livres, perderam o rumo do Evangelho quando tentaram ultrapassar a justiça que é pela fé, buscando um estado de impecabilidade absoluta nessa vida mortal sobre a Terra. Os reformadores também reconheceram que era realmente o perfeccionismo católico-romano vestido de nova roupagem.

Depois da era dos reformadores, o movimento protestante chegou ao período conhecido como de ortodoxia protestante. Heresias foram resistidas pelas cuidadosas definições e redefinições da fé protestante. Na Alemanha, o pietismo surgiu como uma reação contrária à hipocrisia da Igreja Estatal Luterana formalmente ortodoxa. Mas a tendência definitiva do pietismo era distorcer o Evangelho objetivo com ênfase exagerada na experiência. Muito do pietismo alemão recapturou o espírito dos grandes místicos católicos romanos e se lhes assemelhou em suas devoções cristãs sentimentais (e até mesmo efeminadas).

Wesleyanismo

A Inglaterra do Século XVIII presenciou um notável movimento que inclusive foi também uma reação ao formalismo da Igreja Anglicana. A verdade da justificação somente pela fé tinha sido perdida pela maior parte da igreja. Eram dias em que os párocos caçadores de raposa amavam mais os seus cães de caça do que o seu rebanho. Além disso, havia uma crescente classe operária, excluída e desconsiderada por uma igreja indiferente. John Wesley foi um dos homens mais influentes do Século XVIII. Sua influência na vida nacional de toda a Inglaterra (em especial na classe operária) foi tão marcante que alguns creditam ao seu ministério o livramento da Inglaterra de uma revolução semelhante àquela em que foi mergulhada a França.

John Wesley aparentava crer na justificação somente pela fé. A sua fixação, entretanto, era com a santificação. Tinha sido profundamente influenciado pelo pietismo morávio e com certeza pelos místicos católicos romanos. A ênfase de Wesley na santificação foi dos principais pontos fracos do Movimento Metodista. Junto com a justificação pelo sangue de Cristo, Wesley enfatizou o poder renovador Espírito Santo para se viver em conformidade com a verdadeira obediência à Lei de Deus. Aparte da obediência santificada à Lei de Deus, Wesley declarava, nenhuma alma poderia reter a benção da justificação. Isso implicou, naturalmente, em justificação pelas obras. Representou, portanto, uma volta a Roma.

Wesley desenvolveu a doutrina da inteira santificação, conhecida também como “segunda benção” ou “perfeição metodista”. Propôs que após a justificação e um processo de santificação, o crente poderia receber, pela fé, uma segunda benção repentina que removesse completamente da alma o pecado natural, possibilitando a inteira santificação, nada mais que o amor perfeito. Chamou esta experiência de “uma salvação ainda mais elevada”, “imensamente maior do que quando alguém foi justificado” (Plain Account, 7). Wesley e seus pregadores desafiavam seus ouvintes a procurarem essa segunda benção da perfeição com toda a diligência. Assim fizeram, e deram prova dela por meio de vidas de séria (às vezes frenética) piedade.

Com Paulo e Lutero, a justificação somente pela fé era a verdade plena do Evangelho. Mas no Wesleyanismo, a centralidade e a total-suficiência da justificação foram perdidas, ficando esta subordinada à santificação. A própria justificação podia ser perdida pelo fracasso dos crentes em perseverarem nas boas obras.

Entretanto, ainda que tenha pregado isso a outros, até os seus últimos dias, Wesley confessava francamente que não tinha alcançado a sua famosa “segunda benção”. Ele sempre a perseguiu, mas apenas conseguiu alcançar a esperança dela. Era por demais humilde e franco em confessar que apesar de tudo ele sentia pungente o pecado dentro dele.

Infelizmente, nem todos os seguidores de Wesley eram tão prudentes ou tão humildes quanto o fundador do metodismo. Alguns professaram que tinham alcançado a segunda benção da inteira santificação. Alguns eram pregadores, sendo que uns deles chegaram logo a cair na tentação de se imaginarem superiores a Wesley. O reavivamento metodista foi conseqüentemente submetido ao arminianismo e ao fanatismo. O fanatismo não aflorou enquanto por muito tempo os metodistas procuravam a perfeição. Isso emergiu quando alguns reivindicaram tê-la alcançado.

O Reavivamento Americano e o Movimento de Santidade

O Protestantismo Americano do Século XVIII e do começo do XIX veio se tornar herdeiro do fervor religioso do metodismo. Os EUA desenvolveram o seu próprio estilo e marca registrada de reavivamento. Este talhou o temperamento nacional que foi moldado pelo espírito de fronteira.

A vida na fronteira era crua, rude e excitante. Algumas das pessoas de fronteira viam igrejas ou pregadores muito pouco, talvez uma vez por ano em um encontro de reavivamento feito em grandes toldos, as tendas. Assim como os bezerros que iam crescendo e precisavam ser reunidos num lugar para uma vez por ano serem marcados, a juventude, da mesma forma, precisava ser reunida para ser “salva”, enquanto o pessoal mais velho sentia a necessidade de uma boa “limpeza” assim como no tempo do reavivamento. Assim, Vinson Synan, historiador do pentecostalismo, disse muito bem: “Os que atendiam a tais encontros em acampamento… geralmente esperavam que suas experiências religiosas fossem tão vividas como a vida na fronteira que os cercava. Acostumado com ‘briga com ursos e guerra com índios’, eles receberam essa religião de grande colorido e excitamento”. (Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Movement in the United States [Eerdmans Publishing Co., 1971], 25). Por vezes, o fervor religioso foi acompanhado de grandes excessos emocionais tais como “divina histeria”, quedas, convulsões, “riso santo”, latidos semelhantes a dos cães e “danças antigas como as que Davi fazia perante a Arca do Senhor”.

No Século XIX, Charles Finney era um evangelista bem sucedido. Já em 1850, o avivamento dentro do estilo de Charles Finney — se tornou numa espécie de religião nacional dos EUA. A Teologia Sistemática de Finney (ainda hoje um dos mais populares manuais de teologia nas igrejas pentecostais) é muito crítica em relação a Lutero e Calvino face ao ensino deles da justificação pela fé por meio da imputação da justiça que é de Deus. A ênfase predominante de Finney é na santificação e na obra de Deus no contexto da experiência humana — uma ênfase que não é bíblica nem reformada. Sua pregação levava as pessoas à verdadeira experiência de crise emocional e a uma busca posterior de uma experiência de santidade que poderia ser aceitável a Deus.

Em todas essas influências avivalistas, a ênfase predominante era encontrar com Deus por meio de uma experiência íntima do coração verdadeiramente dramática, emocional, empírica. Havia um foco muito pequeno em ser aceitável a Deus pela fé numa justiça não propriamente nossa, mas completamente externa a nós existente na pessoa de Cristo. O avivamento americano era mais subjetivo do que objetivo, mais centralizado na experiência do que centralizado no Evangelho.

Em meados do Século XIX, a Igreja Metodista (que era então a maior igreja dos EUA) experimentou o notável ressurgimento do interesse na doutrina da “segunda benção”. A década de 1840 testemunhou uma enchente de ensino perfeccionista na Igreja Metodista. Líderes, pastores, bispos, e teólogos conduziram o movimento, dando-lhe respeitabilidade institucional e intelectual. Este desenvolvimento espraiou-se para outros corpos protestantes, e em 1869 ficou conhecido como “movimento de santidade”. Publicações independentes sobre “santidade” pulularam por todo o País. O movimento transbordou para a Inglaterra e encontrou expressão na famosa Convenção Keswick.

A ênfase popularizada do movimento de santidade foi na vida vitoriosa cheia do Espírito. Seu ponto focal não era nem na justificação nem na conversão, mas na realização de uma experiência empírica de santidade e inteira santificação subseqüente à conversão. Boardman, Inskip, A. B. Simpson, R. A. Torrey e Andrew Murray eram alguns dos bem conhecidos escritores e líderes do movimento. O titulo da obra de Hannah W. Smith, OSegredo da Vida Feliz do Cristão (ainda amplamente circulada hoje), expressa muito bem as aspirações dos adeptos da santidade. Outros títulos também dizem por si o que pode geralmente ser detectado, uma experiência maior em vez do Evangelho (A Vida Vitoriosa, Chaves para um Viver Vitorioso, A Vida Cheia do Espírito etc.). A linha seguida por estes livros é geralmente em Romanos 7 e Romanos 8: “Saia de Romanos 7 e entre em Romanos 8” (que, incidentalmente, é decididamente contrário a tudo o que os reformadores ensinaram).

A natureza objetiva e o valor da justificação e do perdão deixaram de ser o centro do ensino do movimento de santidade. Isso tudo foi subestimado, e mesmo rebaixado, devido a preocupação dominante com a experiência religiosa e o perfeccionismo. O movimento de santidade seguiu pelos corredores formados pelas rochas do subjetivismo, e por essa causa, veio estar mais em harmonia com o Catolicismo Romano do que com o ensino da Bíblia. Nos anos de 1890, a Igreja Metodista tomou medidas administrativas contra o movimento de santidade. Conseqüentemente, entre os anos 1890 e 1900, vinte e três denominações de santidade foram fundadas.

O Movimento Pentecostal

Ao fim do Século XIX, muitos dentre o movimento de santidade começaram a falar e a buscar o “batismo de fogo”. Um ramo do movimento de santidade foi chamado de “Igreja Holiness do Batismo com Fogo” (originada em Iowa em 1895 e dirigida por Benjamin Irwin). Quem recebia “o fogo” freqüentemente poderia gritar, berrar, cair em transes, ou falar enrolado. Este “batismo de fogo” foi considerado como uma visitação milagrosa do Espírito que seguia à inteira santificação. Os mestres mais conservadores do movimento de santidade rejeitaram essa “terceira” benção de fogo, por considerarem a mesma coisa a segunda benção e o batismo especial do Espírito.

Mas os radicais defensores do “fogo” continuaram exercendo influência dentro do movimento com ardentes pregações e publicações semelhantes a Live Coals of Fire – Brasas Vivas de Fogo – (publicado pela primeira vez em outubro de 1899). Este opúsculo falava “do sangue que limpa, do Espírito Santo que enche, do fogo que queima, e da dinamite que arrebenta”. Não é difícil imaginar as manifestações excêntricas e desconcertantes que acompanharam o estágio de explosão religiosa que decorreu. O resultado lógico dessa tendência religiosa foi o aparecimento, no século XX, do Movimento Pentecostal, cujo inicio é traçado pelo ministério de Charles Parham em Topeka, Kansas, em 1900.

O Dr. Frederick Dale Bruner escreve: “Como resultado dos movimentos de santidade mundiais, nasceu o movimento pentecostal. O historiador pentecostal, Charles Conn, aponta ‘que o movimento pentecostal é uma extensão do avivamento da santidade que ocorreu durante a última metade do Século XIX'” (Frederick Dale Bruner, Teologia do Espírito Santo [Edições Vida Nova, 1977], 44). Diz o notório autor católico-romano e defensor da unificação da igreja, Kilian McDonnell: “John Wesley foi o pai do intenso fervor religioso americano do Século XIX, um dos seus filhos foi o Movimento de Santidade de que originou o pentecostalismo do Século 20” (Kilian McDonnell, “The Classical Pentecostal Movement,” Vol. I, No. 11 [Maio/1972], 1). O movimento pentecostal esteve envolvido diretamente na questão da insistência que o sinal físico do falar em “línguas” era a evidência do batismo do Espírito. Esta questão das línguas causou uma divisão entre o movimento de santidade e o pentecostal, ainda que a teologia básica dos dois movimentos permanece a mesma. O pentecostalismo é o resultado inevitável do avivamento subjetivo. Os avivamentos que ocorreram nos Estados Unidos talvez não fossem do gênero abertamente pentecostal ou carismático, mas eles tendiam para aquela direção porque eram, acima de tudo, orientados para o experiencialismo religioso.

Tendência em direção a Roma

Por mais de 400 anos, têm sido exercidas influências no âmbito do Movimento Protestante no sentido de corroer a ênfase objetiva da doutrina reformada da justificação somente pela fé. Isso não passa de uma volta ao romanismo. Há alguns anos, o conhecido autor católico-romano, Louis Bouyer, fez essas impressionantes observações:

“A Renovação Protestante… lembra os melhores e o mais autênticos elementos da tradição católica… Vemos por toda essa nação protestante, cristãos que tem como sua religião o movimento a que chamamos, no geral, de Renovação, o qual, mais ou menos, não passa de catolicismo… Os mais valiosos e duradouros reavivamentos contemporâneos em seus resultados em tudo apresentam uma impressionante analogia com o processo de redescoberta do catolicismo… o rumo que instintivamente se tomam em direção ao catolicismo… isso pode conduzir ao caminho da reconciliação entre protestantes e católicos.” (Louis Bouyer, The Spirit and Forms of Protestantism [World Publishing Co., 1964], 186, 188, 189, 197).

Bouyer conclui com um apelo para os seus confrades católicos se preparem para a volta inevitável dos “irmãos separados” sob a influência dos reavivamentos contemporâneos. Não faz diferença o fato de que muitos reavivalistas consideram-se anticatólicos, conforme Bouyer anota, eles estão simplesmente no escuro quanto ao fato de que o cerne da sua ênfase está em profunda harmonia com o catolicismo. Se o leitor deseja saber o que Roma pensa hoje sobre os mais populares reavivalistas americanos, pode ficar seguramente bem informado a respeito através da matéria saída em julho de 1972 no Digesto Católico.

A alguns anos atrás, Paul Tillich abordava o tema “o fim da era protestante”:

“O tipo de protestantismo que tem sido desenvolvido na América não é bem a expressão da Reforma, mas tem mais elementos do chamado evangelicalismo radical. Há grupos luteranos e calvinistas que são fortes, mas em grau surpreendente eles têm-se adaptado ao protestantismo americano. Este clima não foi produzido por eles, mas pelos movimentos sectaristas. Assim que cheguei à América, há vinte anos atrás [em 1933], a teologia da reforma era quase desconhecida no Union Theological Seminary [New York] por causa das diferentes tradições, e a redução da tradição protestante avizinhava-se das tradições não-reformadas. O conflito de Lutero com os evangélicos radicais é especialmente importante para os protestantes americanos porque o tipo prevalecente de cristandade na América não foi produzido pela Reforma diretamente, mas pelo efeito indireto da Reforma através do movimento de radicalismo evangélico.” (Paul Tillich, A History of Christian Thought [S.C.M. Press Ltd., 1968], 225-226, 239. Das conferências apresentadas primeiramente em 1953).

As últimas décadas têm mais do que justificado as observações de Bouyer e Tillich. O movimento histórico de volta a Roma tem-se tornado como aquele lugar onde, no Rio Niágara, os canoeiros alcançam aquele ponto que não há volta quando as águas se aceleram em direção às cataratas. O movimento tem-se acelerado em sua corrida, e evangélicos e carismáticos estão, a taxas crescentes, sendo re-introduzidos a Roma.

O Movimento Neopentecostal ou Carismático

De 1900 a 1960, o movimento pentecostal continuou a crescer fora do protestantismo convencional. Todavia, já em 1960 tinha atingido uma membresia mundial da cifra de aproximadamente oito milhões de pessoas. Naquele tempo, gente como Henry Van Dusen já começava a chamar o movimento de “terceira força” da Cristandade.

Então, próximo de 1960, teve lugar uma mudança notável quando de repente o pentecostalismo começou a ultrapassar linhas demarcatórias denominacionais para penetrar nas igrejas protestantes históricas. Como John Sherrill diz em seu livro Eles Falam em Outras Línguas, “caíram os muros”. Logo havia milhares, e depois milhões de episcopais, metodistas, luteranos, batistas, presbiterianos, congregacionais e outros protestantes-pentecostais. Esta fase interdenominacional do movimento ficou conhecida como movimento neopentecostal, ou carismático. Não foi um movimento para que houvesse uma denominação separada, mas uma experiência que transcendeu todas as linhas divisórias denominacionais. Os que compartilhavam a experiência em diferentes denominações se viram tendo mais em comum mutuamente entre si do que com os não-carismáticos da mesma igreja. Muitos confiantemente previram que este seria o começo do maior avivamento que o mundo jamais conhecera.

Lá para o fim dos anos 1960, o movimento neopentecostal deu duas de suas mais esplêndidas passadas. Ele penetrou na nova cultura jovem e ficou conhecido como Movimento de Jesus. Estima-se que noventa por cento do Povo de Jesus, como foram chamados, tiveram alguma forma de experiência pentecostal. Muito da cultura da droga ficou “alta” com Jesus ao invés de com drogas. Então, para o coroamento do seu sucesso, o movimento neopentecostal entrou na Igreja Católica Romana em 1967. Depois do começo modesto em dois de seus grandes centros de ensino (Duquesne e Universidade Notre Dame), agora se espalha rapidamente na Igreja Católica Romana, atraindo o apoio de cardeais, bispos, milhares de padres e freiras, e do próprio Papa. Visto que os católicos romanos têm agora recebido idêntica experiência pentecostal que os protestantes, os pentecostais da velha linha estão re-avaliando a sua atitude para com o catolicismo romano. Tradicionalmente antipapais, as igrejas pentecostais clássicas estão mudando sua posição, do “pentecostes” têm-se mudado para Roma.

Embora o pentecostalismo tenha sido introduzido na Igreja Católica Romana inicialmente por pentecostais protestantes, tem encontrando menos resistência em círculos católicos do que em círculos protestantes. De fato, como muitos autores católicos estão apontando, o pentecostalismo se sente em casa na Igreja/Estado Romano. Está mais em casa lá porque a ênfase dominante pentecostal na experiência subjetiva está em harmonia essencial com o ensino e tradição da Igreja Romana. Diz o monge beneditino, Edward O’Connor da Universidade Notre Dame:

“Embora tenham se originado da plataforma protestante, as igrejas pentecostais não são tipicamente protestantes em suas crenças, atitudes ou práticas…. não se pode pressupor que o movimento pentecostal represente uma incursão da influência protestante [dentro da Igreja Católica Romana]. … Católicos que têm aceitado a espiritualidade pentecostal tem-se deparado que esta está em harmonia com sua fé e vida tradicionais. Eles a experimentam, não como um empréstimo de uma religião estranha, mas como um desenvolvimento natural de sua própria… a experiência do movimento pentecostal tende a confirmar a validade e relevância de nossas autênticas tradições espirituais. Outrossim, o desenvolvimento das igrejas pentecostais hoje parece seguir através de estágios muitos parecidos com o que ocorreu nos primeiros anos da Idade Média quando a doutrina clássica estava tomando forma.” (Edward O’Connor, The Pentecostal Movement in the Catholic Church [Ave Maria Press, 1971], 23, 32,28, 183, 191, 193, 194).

Além disso, o neopentecostalismo não faz nada no sentido de perturbar a fé católico-romana e suas igrejas e tradições. Diz O’Connor:

“Semelhantemente, as devoções tradicionais da Igreja têm-se revestido de mais significado. Algumas pessoas têm sido levadas de volta para o uso freqüente do sacramento da penitência através da experiência do batismo do Espírito. Outras têm descoberto em suas vidas um lugar para devoção à Maria, enquanto que antes mantinham repulsas ou indiferença para com ela. Um dos mais extraordinários efeitos da ação do Espírito Sagrado tem sido o de promover a devoção à Presença Real na Eucaristia.” (Edward O’Connor, Pentecost in the Catholic Church[Dove Publications, 1970], 14, 15).

O Movimento Carismático e Roma

Os anos de 1970 nos trouxeram para a grande fase ecumênica do reavivamento e do movimento carismático. Em 1º de fevereiro de 1972, a revista Christianity Today escreveu em editorial:

“Ao que parece, a força que se apresenta como a maior contribuição para o atual avivamento que varre a face da Terra é o pentecostalismo. Este movimento, que começou há várias décadas, e que em seus anos iniciais tinha um caráter muito sectário, agora é ecumênico no seu sentido mais profundo. Parece que ultimamente o neopentecostalismo tem incluído muitos milhares de católicos romanos… Uma nova era do Espírito tem começado. A experiência carismática mexe com os cristãos em coisas que vão além da glossolalia… Há uma luz no horizonte. Uma renascença evangélica está se tornando visível ao longo da rodovia cristã, das fronteiras dos grupos sectários aos altos lugares da comunhão católico-romana. Parece ser este um dos momentos mais estratégicos da história da Igreja.”

Em maio de 1972, matéria da New Covenant (publicação católica carismática) destaca os católicos e os protestantes unidos numa grande confraternização carismática. Proclama-se que o movimento carismático mantém a esperança de cura das feridas abertas no Século XVI . Destaque para Henry Van Dusen do Union Theological Seminary que teria dito:

A presença do movimento carismático (pentecostal) entre nós diz-se que é para marcar uma nova era no desenvolvimento da cristandade. O novo pentecostalismo parecerá aos historiadores do futuro a “verdadeira reforma” (comparada à do Século XVI) da qual nasce a terceira força do mundo cristão (protestante-católico-pentecostal) (19).

Essa união não está fundamentada na verdade objetiva, mas na experiência subjetiva. A cristandade americana está se afogando num oceano de subjetivismo religioso. A literatura carismática (e ai incluímos todo este reavivalismo subjetivo) está infestando a terra como as rãs do Egito (ver Apocalipse 16:13, 14). Nunca se viu uma massa de literatura tão destituída do Evangelho de Cristo. Praticamente não existe sequer um pensamento objetivo, extrínseco. É tudo na base do “já que é assim, então é desse jeito”, uma volta ao misticismo medieval, efeminado, sentimental. Não é de estranhar que um dos pontos de diálogo entre os líderes pentecostais e os da Igreja Católica Romana é a semelhança notável entre o pentecostalismo e o misticismo católico. O fato aterrador é que o desmoronamento das resistências protestantes ao movimento carismático ilustra a decadência das igrejas protestantes. Até mesmo o termo Protestante está se tornando uma palavra suja. E ser crítico ao romanismo virou agora uma obscenidade nos círculos evangélicos.

O Cumprimento de Profecia

Multidões estão exultantes por causa da igreja que tem sido impactada pelos fogos do reavivamento. Não se trata de uma moda passageira, mas de um notável cumprimento da profecia bíblica. Partamos do princípio que os protestantes tenham geralmente aceitado o fato de que a besta semelhante a leopardo de Apocalipse 13 era o símbolo do papado, que dominara a civilização européia por aproximadamente mil anos. Munida da verdade objetiva da justificação somente pela fé, a Reforma provocou no “homem do pecado” a “ferida fatal”. Ao quebrar a camisa de força do pensamento papal, as nações começaram a se libertar da dominação papal (ver Apocalipse 13:3). Mas a profecia do Apocalipse claramente prediz uma restauração da força da igreja antiga para dominar as mentes e escravizar as consciências dos homens. O profeta declara:

E operava grandes sinais, de maneira que fazia até descer fogo do céu à terra, à vista dos homens; e, por meio dos sinais que lhe foi permitido fazer na presença da besta, enganava os que habitavam sobre a terra e lhes dizia que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia. (Apocalipse 13:13,14)

“Fogo… do céu… à vista dos homens” é um quadro terrivelmente preciso da religião contemporânea envolvida em fogos do falso reavivamento e do movimento carismático. Fogo, que é o símbolo favorito do movimento carismático, é utilizado por Deus para descrever o movimento que nada mais é senão uma contrafação do derramamento do Espírito Santo. Não é realmente fogo do céu, mas parece ser fogo do céu. É “fogo do céu… à vista dos homens”. Mas, em virtude dessa influência, levará “a terra e os que nela habitavam” a adorarem “a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada” (Apocalipse 13:12).

Os últimos dias serão marcados por grandes decepções religiosas. Operando a pretexto de “fogo…do céu” (o batismo do Espírito Santo), “os espíritos de demônios” operarão “sinais diante dos reis da Terra, para os congregar para a batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso” (Apocalipse 16:14; veja também 2 Tessalonicenses 2:8-12).

Agora mesmo é considerada blasfêmia falar contra a obra sobrenatural levada a efeito no movimento carismático. Um espírito de prepotente certeza e arrogante intolerância tem sido freqüentemente manifesto pelos que “tem o espírito”. A preocupação com experiência interior tem dirigido multidões a retornarem à filosofia religiosa da Idade Média e da igreja medieval. O Vaticano sabe o resultado. Lê-se o que é. Muitos protestantes parecem estar tão paralisados quanto Melanchthon esteve quando não soube o que falar, ou não, aos fanáticos espiritualistas que vieram a Wittenberg enquanto Lutero estava escondido no Castelo de Wartburg. Foi essa a questão que foi levada ao grande reformador que o levou a sair de seu esconderijo e arriscar sua vida. Os líderes “cheios do espírito” conseguiram uma entrevista com Lutero em que clamavam: “O Espírito! O Espírito!” O reformador decididamente não ficou impressionado. “Eu esbofeteio no focinho este seu espírito”, ele trovejou. Ele viu que a grande verdade da justificação somente pela fé estava diametralmente oposta a esses, assim qualificados por eles mesmos, “profetas alemães”.

Estamos agora vivendo numa época em que as questões do Século XVI têm sido de novo combatidas. Avançando para o final desse tempo, o conflito se intensificará. Dobrar-se-ão as velhas linhas demarcatórias denominacionais. O mundo religioso está se agrupando. De um lado, a grande união de católicos romanos, pseudo-protestantes e pentecostais que tem a aparência de ser um movimento para a conversão de todo o mundo. De outro lado, haverá um movimento para restaurar o Evangelho eterno em sua pureza original e força. O Evangelho triunfará. Embora o Anticristo possa ser vitorioso num momento, sua ruína é certa. Uma pequena palavra, e cairá.

Extensivamente revisado e adaptado de um panfleto publicado em 1972 pelo Australian Forum.
Novembro/Dezembro de 1986
Traduzido por: Anamim Lopes da Silva