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Dízimo, Oferta e o Crente

dizimo-oferta-e-o-crenteTenho lido muitos artigos sobre o dízimo e ofertas. Quase todo dia, me enviam textos “descendo a lenha” no que chamam a “falácia do dinheiro a Deus”.

Como já expus à alguns irmãos a minha convicção pessoal, e creio, também bíblica, e visto que me chegou às mãos um artigo intitulado “Salário do Pastor: um peso na carteira!” [1] (cujo autor não sei quem é, mas já o reprovo pelo título), enviado por uma irmã que me pediu um comentário, resolvi escrever minhas impressões sobre o assunto e a minha convicção bíblica a respeito.

PRIMEIRO: UM ALERTA!

O problema de muitos articulistas é a falta de honestidade. Não que desejam ser “desonestos”, mas é que não se preocupam com TODA a honestidade; pois estão satisfeitos demais com a honestidade que já têm, ainda que não seja suficiente. O ataque é sempre baseado em uma premissa, um pré-conceito instalado e arraigado, simplesmente opinativo (refletindo o desejo e prática pessoal ao invés da vontade de Deus), ainda que sejam citados alguns versículos bíblicos (normalmente fora do contexto e a pretexto de) e algumas fontes “abalizadas”, que justificam a execração pública, seja da igreja, do pastor ou do crente fiel que oferta (isso não é privilégio dos articulistas cristãos, mas é uma prática usada secularmente, desde que o homem caiu no Éden). Não há preocupação com TODA a verdade. Uma parte dela, mesmo ínfima, já é o suficiente, e se houver alguma distorção, quem se importará?

Então, a questão passa a ser moral, e se omitimos deliberadamente alguma informação, ou não fazemos uma pesquisa cuidadosa, emitindo um conceito como sendo divino (o que é uma manipulação, um sofisma), faltamos com a verdade, e nos tornamos em mentirosos, fraudulentos. Há de se ter cuidado com tudo o que lemos, para que não caíamos na armadilha, sendo enganados por negligência, por desprezarmos uma acurada análise crítica do que está sendo proposto. É assim que começam as heresias, é assim que Satanás engana o homem, é assim que se torna fácil confundir, beligerar, dominar, e isso é pecado, e não podemos jogá-lo para debaixo do tapete, como se fosse possível escondê-lo. A Bíblia afirma que, “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará”. (Gal.6.7), e que, “os pecados de alguns homens são manifestos, precedendo o juízo; e em alguns manifestam-se depois. Assim mesmo também as boas obras são manifestas, e as que são de outra maneira não pode ocultar-se” (I Tm 5.24-25).

Então, como ovelhas no meio de lobos, sejamos prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas (Mt 10.16).

Usualmente temos o defeito de sermos relapsos, pouco atentos aos cuidados que se deve ter com a Palavra. Se lemos um texto, mesmo que de um renomado escritor ou teólogo, devemos cuidar para não crer “afoitamente” em tudo o que ele diz. Se nos são apontados versículos bíblicos, que os consultemos, atentando para o contexto do capítulo, seus versículos anteriores e posteriores, que nos darão o entendimento correto do que o versículo citado quer realmente dizer. Por sermos omissos, acabamos crendo em todo tipo de “sandice” professada e confessada, como sendo verdade e proveniente de Deus. Não podemos nos esquecer de que as Escrituras são a verdade, e de que ela é a nossa única regra de prática e fé, mesmo que a maioria de nós a tenha (e venha) negligenciado. O Senhor nos alerta a vigiar e orar (Mc 14.38), e não nos deixar enganar por supostas “verdades”, “as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria… mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Cl 2.23).

Estejamos pois alertas, revestidos de toda a armadura de Deus, para não sermos apanhados nas ciladas de Satanás (Ef. 6.11)

SEGUNDO: UM FATO

O dízimo é bíblico e refere-se à nação de Israel. Primeiramente, não eram ofertas a Deus, mas taxas para suprir o orçamento nacional, visto que Israel era uma teocracia, os sacerdotes levíticos atuavam como um governo civil. Representava não a décima parte mas aproximadamente 25% em taxas que eram doadas pelos israelitas. É uma ordenança ao povo de Israel. Assim, os crentes do N.T. não são chamados a dizimar. Mas temos de DOAR, OFERTAR. Como o pr. John MacArthur disse: “A linha de direção para a nossa doação para Deus e Sua obra é encontrada em II Co 9.6-7: ‘E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria’” [2].

Ao crente não é cobrado o dízimo, mas a oferta, que deve ser dada segundo o coração; e como ele ofertar, Deus conhecerá o seu coração (é uma hipérbole, visto que Deus JÁ conhece o coração de cada um desde toda a eternidade).

TERCEIRO: UMA MENTIRA

Afirmar que pelo fato do crente não estar “preso” ao dízimo, ele não deve contribuir para a igreja, ou ele pode dar qualquer ninharia que Deus se alegrará (ninharia aqui tem o sentido de você separar uma ínfima parte do que tem, as migalhas que sobraram, e não como alguns fazem parecer a passagem de Lc 21.1-4, onde a mulher deu duas moedas, mas era TUDO o que tinha). Afirmar que as ofertas para a “‘obra de Deus’ significa, naturalmente, assalariar o cargo de pastor e pagar as contas mensalmente para manter o edifício sem dívidas” [3], não parece, no mínimo, uma falta de compreensão e ignorância quanto às Escrituras e a obra de Deus (e com o próprio Deus)? Não lhe parece tendenciosa e facciosa tal afirmação? Será que TODOS os pastores estão reprovados porque uma parte deles é réproba? O crente, então, não tem de sustentar o pastor e a igreja? Qual é a base bíblica? Quais são esses versículos?

QUARTO: A VERDADE

O crente não só deve, mas tem o DEVER de sustentar a igreja. Foi o apóstolo Paulo quem afirmou em II Co 11.7-9: “Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus? Outras igrejas DESPOJEI eu para vos servir, recebendo delas SALÁRIO; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado. Porque os irmãos que vieram da Macedônia SUPRIRAM a minha necessidade, e em tudo me guardei de vos ser pesado, e ainda me guardarei” (grifo meu). Paulo reprova os coríntios por não lhe terem suprido as suas necessidades. E de que os Macedônios e outras igrejas o fizeram. E ainda assim, ele pregou-lhes o evangelho.

O mesmo Paulo disse em I Tm 5.17-18: “Os presbíteros que governam BEM sejam estimados por dignos de DUPLICADA HONRA, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: DIGNO é o obreiro do seu SALÁRIO” (grifo meu). Se o apóstolo dos gentios não afirma a necessidade de honrar os obreiros (presbíteros, pastores, missionários, etc) com o salário, não faço a menor idéia do que ele quis dizer nesta epístola.

Ao contrário, certos autores insistem em detratar os pastores, de uma forma geral, como se fossem todos eles crápulas, pústulas, uma classe de sanguessugas, cânceres sociais, a escória do mundo, criminosos… “Somos espiritualmente obrigados a PATROCINAR o pastor e sua equipe?” [4] (grifo meu). A resposta é que cada crente deve manter, sustentar a obra de Deus, como afirmou o apóstolo Paulo. E ele diz mais! Em II Co 9.1-13 (leiam atentamente cada versículo, por favor!) lemos que Paulo os exorta a coletarem ofertas a fim de ABENÇOAR aos irmãos da Macedônia (parece que os coríntios, como muitos crentes hoje, achavam que podiam obedecer a Deus, sem cumprir o chamado de ofertar à igreja; talvez por isso, eram desobedientes em tantas outras coisas, e uma igreja fraca e cheia de tantos escândalos como o apóstolo relata em suas cartas).

Preocupado com o pouco zelo dos irmãos de Corinto, Paulo manda uma comissão à sua frente com a epístola, para que os Coríntios providenciassem a coleta (que não era dos frutos da terra apenas, mas de dinheiro), “a fim de, se acaso os macedônios vierem comigo, e vos acharem desapercebidos, não nos envergonharmos nós (para não dizermos vós) deste FIRME FUNDAMENTO DE GLÓRIA. Portanto, tive por coisa necessária exortar estes irmãos, para que primeiro fossem ter convosco, e preparassem de antemão a vossa BÊNÇÃO, já antes anunciada, para que ESTEJA PRONTA como BÊNÇÃO, e não como AVAREZA” (grifo meu). Ele afirma que a oferta preparada para os macedônios seria uma bênção, e os exortava a que procedessem no firme fundamento de glória, e não como avareza. Há alguma dúvida de que ofertar é um mandamento para os crentes? E de que o devemos fazer como uma obediência a Deus, servindo de bênção à igreja e aos irmãos (e aos incrédulos também)? E de que glorificamos a Deus quando assim procedemos, sabendo que somos administradores daquilo que Ele mesmo nos deu e tem dado, sabendo que o nosso dinheiro não nos pertence, e de que, se o utilizamos apenas em nosso próprio proveito, nos fazemos egoístas, avarentos e de que, tanto o egoísmo como a avareza são pecados (Ef. 5.5)?

“Porque a administração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também é abundante em muitas graças, que se dão a Deus. Visto como, na prova desta administração, GLORIFICAM a Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos” [II Co 9.12-13 (grifo meu)].

QUINTO: UM COMENTÁRIO

Estes e muitos outros versículos são “esquecidos” pelos detratores e inimigos da igreja. Sabemos que Satanás tem como alvo principal a igreja, pela qual o Senhor Jesus Cristo morreu. Ele não morreu pelo mundo, nem pelos que estão ou estarão queimando no Inferno; mas pelos crentes, aqueles que pertencem a Sua Igreja e Noiva. Por ela, o Senhor encarnou, andou pelo mundo, pregou o evangelho, curou, morreu na cruz do Calvário, ressuscitou, e chamou cada um de nós à conversão, restaurando-nos, vivificando-nos quando ainda estávamos mortos em ofensas e pecados (Ef. 2.1).

Muitos usam o dízimo como argumento para não ofertar, não doar, não acolher, não ajudar, não auxiliar, tanto a igreja, como irmãos e incrédulos. Dizem que Cristo cravou na cruz toda a Lei (no que estão certos), e de que se é livre para agir, pensar, e comportar como bem entender, no que estão errados.

Se o dízimo não pertence à igreja, os crentes da igreja primitiva dispunham de TUDO o que possuíam. Atos 2.44-45, diz: “E todos os que CRIAM estavam juntos, e tinham tudo em COMUM. E vendiam SUAS PROPRIEDADES E BENS, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister” (grifo meu). Quem você conhece que vendeu tudo o que possuía e entregou à igreja? Ou distribuiu-o aos irmãos? O que vemos hoje é uma igreja insensível, e irmãos igualmente insensíveis, que não obedecem a Deus; que se fingem de moucos, de cegos, de paralíticos, para não participarem da obra de Deus. São os deficientes modernos, os quais precisam da cura do nosso Amado Senhor. Não digo, com isso, que se deve vender tudo e despojar-se a favor da igreja. Isso nem é o mais importante. Mas se crentes se apegam tanto ao seu dinheiro que não o ofertam, não estarão igualmente apegados à sua velha natureza e ao pecado? Se não consigo “abrir a mão”, afim de ser uma bênção e glorificar a Deus no mínimo, poderei fazê-lo quando me for exigido o máximo, por exemplo, a minha própria vida? Será que tenho devotado meu tempo à leitura da Bíblia, à oração, ao evangelismo, aos trabalhos de discipulado e ensino dos irmãos? Ao conforto daqueles que se encontram afligidos e desamparados (não somente material, mas sobretudo espiritualmente)? Usando o meu tempo, dons e bens para a glória de Deus? Será que meus pensamentos estão em Deus ou, como narciso, vejo apenas a mim mesmo em todos os cantos? Serei capaz de algum sacrifício para glorificar o bom, misericordioso e gracioso Deus que me resgatou da condenação, quando o único lugar que mereço é perecer eternamente no Inferno?

São perguntas que devemos nos fazer. É fácil agredir as pessoas e ser injusto. É muito fácil desprezá-las. E mais fácil ainda ignorá-las. Mas Deus nos chamou por amor, e pelo amor. E é por ele (o mesmo amor que o Senhor teve e tem por nós), que devemos ter pela igreja, pelos irmãos e por aqueles que se encontram perdidos no mundo. E o amor implica em renúncia, em entrega, em sacrifício. Não foi assim com o Senhor Jesus? Será que o nosso dinheiro é mais importante do que o nosso dever de crentes em Cristo?

Para finalizar este tópico, quero deixar-lhes o versículo de Hb 13.16:“E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada”.

SEXTO: CONCLUSÃO

1) Quanto a obediência aos pastores, fico com Hebreus 13.17; Paulo diz: “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil”.

2) Quanto a oferta às igrejas, com I Coríntios 16.1-2: “Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às IGREJAS da Galácia. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar” (grifo meu).

3) Quanto ao sustento dos pastores, I Timóteo 5.18: “E: Digno é o obreiro do seu salário”.

4) Quanto à acusação aos pastores, I Timóteo 5.19: “Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas” (e não genericamente, como se todos fizessem parte de uma quadrilha).

Por fim, exorto-os a seguir a Cristo, que é a cabeça, cujo corpo, nós, a igreja, devemos nos apresentar gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível; onde Deus distribuiu os dons aos homens (uns evangelistas, outros pastores e doutores), querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo, por Cristo e em Cristo (Ef. 4.11-16).

Sabendo que Deus detém promessas aos Filhos que doam com amor e alegria (II Co 9.6-7), e de que esta é uma forma de adoração. E só para ficar claro, essas promessas não se referem, necessariamente, a bênçãos materiais.

Finalizo com as palavras do pr. Ron Riffe sobre a questão:

“’Portanto, com ardente instância, recomendo que cada cristão individual ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade’ [1 Coríntios 16:2] e dê por meio de sua igreja local e de forma regular. E, se você não tem confiança que os líderes da sua igreja usam o dinheiro de uma forma responsável e honesta diante de Deus, então precisa procurar outra igreja para freqüentar! O dízimo não é requerido dos cristãos no Novo Testamento, mas devemos amar o Senhor e não nos limitarmos a dar apenas 10% de nossa renda. Observe que o verso citado anteriormente diz ‘… conforme a sua prosperidade’. Em outras palavras, o princípio do Novo Testamento é dar em proporção àquilo que Deus provê para nós” [5].

*O autor não é pastor, presbítero ou seminarista.

NOTAS:
[1] O artigo “Salário do Pastor: um peso na carteira”, provavelmente foi extraído do livro “Cristianismo Pagão”, de Frank Viola.
[2] Artigo de John MacArthur com o título “Deus requer que eu dê o dízimo de tudo quanto ganho?”.
[3] Trecho de “Salário do Pastor: um peso na carteira”.
[4] Idem
[5] Artigo de Ron Riffe com o título “O Suporte aos Missionários”.

Fonte: Kálamos