O maior servirá o menor. Rm 9.12
Sempre que debatemos sobre a eleição individual, os nossos opositores levantam a questão de que em Romanos 9.12 a referência é coletiva e não individual, pois Esaú nunca serviu a Jacó. “A profecia se refere a povos e não a indivíduos”, dizem eles.
Gostaria de analisar os fatos, e ao final extrair uma conclusão, que certamente não será do agrado dos nossos opositores, já que são obstinados em seus pressupostos, mas que é a resposta que tenho no momento.
Realmente a profecia a que Paulo se refere em Rm.9.12, e que se encontra originalmente em Gn. 25.23, parece apontar para as nações que sairiam de ambos irmãos. Mas como eu disse, parece, pois o uso que Paulo fez, não se aplica à descendência, mas aos irmãos como indivíduos, caso contrário ele não diria anteriormente “…porque nem todos os que são de Israel são israelitas” (cf. Rm 9.6).
Retornando ao questionamento inicial, biblicamente não temos respaldo para afirmar que Esaú serviu, de boa mente, a Jacó. Temos sim, relatos posteriores da sua descendência servindo a Israel (cf. 2 Sm 8.14), isso não se pode negar.
Todavia, ao analisarmos o texto de Gênesis, vemos que a não servidão ativa de Esaú a seu irmão Jacó, em nada fortalece a posição de nossos opositores; vejamos a bênção de Isaque sobre Jacó.
Assim, pois, te dê Deus do orvalho dos céus, e das gorduras da terra, e abundância de trigo e de mosto. Sirvam-te povos, e nações se encurvem a ti; sê senhor de teus irmãos, e os filhos da tua mãe se encurvem a ti; malditos sejam os que te amaldiçoarem, e benditos sejam os que te abençoarem.
Gênesis 27.28-29
Devemos atentar para o que diz Isaque, “sê senhor de teus irmãos”, isso indica que Jacó seria senhor de direito de “seus irmãos”, e que dessa forma Esaú lhe devia obediência. Passemos a “bênção” de Isaque a Esaú.
Então respondeu Isaque a Esaú dizendo: Eis que o tenho posto por senhor sobre ti, e todos os seus irmãos lhe tenho dado por servos; e de trigo e de mosto o tenho fortalecido; que te farei, pois, agora, meu filho? E disse Esaú a seu pai: Tens uma só bênção, meu pai? Abençoa-me também a mim, meu pai. E levantou Esaú a sua voz, e chorou. Então respondeu Isaque, seu pai, e disse-lhe: Eis que a tua habitação será nas gorduras da terra e no orvalho dos altos céus. E pela tua espada viverás, e ao teu irmão servirás. Acontecerá, porém, que quando te assenhoreares, então sacudirás o seu jugo do teu pescoço.
Gênesis 27.37-40
Desta “bênção” podemos extrair em relação ao que estamos tratando, duas frases de Isaque, a primeira é: “Eis que o tenho posto por senhor sobre ti”, e a segunda: “…, e ao teu irmão servirás”. Não podemos esquecer que o direito de primogenitura pertencia, por direito, a Jacó, pois Esaú o vendeu por um prato de lentilhas, porém Esaú passa a odiar seu irmão por causa da “bênção” que Isaque lhe havia impetrado. Pela boca de seu próprio pai, Esaú recebe a notícia de que seria servo de seu irmão.
Portanto, para o nosso caso, é irrelevante Esaú jamais ter servido, de boa mente, a Jacó. O fato é que Esaú era seu servo, e apesar de toda a rebeldia, isso não podia ser mudado. Torcer essa passagem para afirmar que a eleição individual é falsa, é não interpretar corretamente a intenção do texto bíblico.
Fonte: Divinitatis Doctor