Cá estamos novamente para falar sobre síndromes presentes do modo mais enfático no movimento neopentecostal. Tenho plena convicção que o leitor já se deparou com muitos que infelizmente se encontram em estado de letargia espiritual, provocada por uma falsa identidade de crente ingênuo e “puro”, fruto deste tempo de cristianismo raso e imaturo.
A bola da vez é um cartoon que mostra a visão de mundo de uma criança como qualquer outra. Esta visão é algo inerente a fase cronológica de cada criança, ou seja, cada coisa em seu tempo. Você já se imaginou fazendo aos 30 anos coisas que fazia aos 6 anos? O tempo passa e o crescimento biológico acontece.
Falando do ambiente cristão, por que será que o tempo passa e espiritualmente poucos avançam? Por que o tempo passa e muitos ainda permanecem na imaturidade espiritual e intelectual?
O Fantástico Mundo de Bobby
Esta série estadunidense de desenhos animados foi criada por Howie Mandel e dirigida por Tom Tataranowicz. A série foi exibida no Brasil em seu auge na década de 90.
O desenho fala do cotidiano de um garotinho chamado Bobby e sua família. Bobby vivia pilotando seu triciclo e, nas idas e vindas, estava a descobrir o mundo. Sua fértil imaginação fazia com que visse coisas onde elas não existiam, ou seja, a mentalidade de qualquer criança.
Quem não se lembra deste menino com sua característica “cabeçona”, seu tio Ted (com as mais extravagantes e coloridas camisas) e o cachorro Roger?
Os episódios não eram cheios de chavões ou clichês, apenas relatavam de modo geral o que é o dia-a-dia de uma simples criança, vivendo no lúdico e com o convívio de sua família.
Pois bem, e onde entra a correlação com a mentalidade Neopentecostal?
Antes que o leitor me atire pedras, ressalto: esta reflexão é para levar o crente velho (sim, aquele que está há anos na igreja e parece uma pedra de sal no espírito e no intelecto) a se mexer e mudar de posição. Serve também para mostrar e alertar ao novo na fé, ao recém-convertido, que o cristianismo é mais que esse cardápio bizarro servido por aí.
Quero ser como criança…
Mais uma vez eu recorro a minha pimpolha como exemplo. É encantador o mundo lúdico das crianças. Minha filha é capaz de imaginar coisas que não existem e criar um mundo maravilhoso onde eu participo de modo ativo. Como é gostoso vê-la crescendo e aprendendo e como é interessante o modo como o coração puro e isento de malícia das crianças se comporta.
O tempo vai passando, e ela começa a mostrar em suas atitudes que está crescendo: desenvolvimento físico e intelectual. Como todo pai, sou obrigado a dizer: “Puxa! O tempo está passando rápido!”. Quando a vejo brincando com suas bonecas me envolvo como um brucutu numa brincadeira estranha, mas ser pai é participar!
Seria estranho se o leitor se deparasse comigo brincando sozinho com uma boneca ou umcarrinho…
Mas por que será que os crentes envelhecem e permanecem na infantilidade espiritual?
Infelizmente existe uma terrível confusão de entendimento neste aspecto. A Bíblia deixa muito claro a devida separação entre o “ser como criança”.
a) Quanto à malícia: As Escrituras mostram que após termos a ciência sobre o pecado, precisamos confessá-lo e abandoná-lo. Neste sentido diz as Escrituras sobre o ser como crianças:
“Em verdade vos digo que qualquer que não receber o reino de Deus como menino, de maneira nenhuma entrará nele.” (Mc 10.15)
“Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento.” (1Co 14.20)
Em suma, nosso coração deve ser como de uma criança no que tange o pecado e a respeito da confiança em Deus como Pai. Precisamos limpar a casa e ser como crianças neste sentido, nos lançando nos ombros da graça em Cristo, confiando de modo irrevogável no Deus poderoso. Neste sentido, quero ter o coração puro de uma criança e estar no Reino de Deus.
b) Quanto ao conhecimento: Aí mora o perigo. Com base no texto citado onde Jesus fala para sermos como crianças, alguns crentes ainda teimam em não crescer no entendimento, conforme citado em 1Co 14.20. Neste aspecto, o Neopentecostalismo tem feito uma geração de “Bobbys”, que vagam daqui pra lá sobre seu triciclo, imaginando coisas de criança.
Uma geração de crentes mimados é sacudida de um lado para o outro, vivendo num mundo gospel lúdico que teimam em não sair. E vale a ressalva imediata: a existência desta geração “O Fantástico Mundo de Bobby” está em proeminência no Neopentecostalismo, mas infelizmente não se restringe a este segmento.
É impressionante como temos atitudes infantis por aí a fora.
Já vi crente abandonar sua congregação pelos motivos mais estapafúrdios possíveis! Uns porque o pastor não o viu no meio de duzentas pessoas; outro porque o irmão ora alto na fileira de trás; outro porque o tapete foi trocado; outro porque o banco era duro, etc.
Fora a tragédia dos que são membros, observamos imaturidade severa em líderes de ministério. Uns chegam a abandonar seu ministério em função de restrições mínimas como, por exemplo, o uso demasiado de “roupas gospel” do cantor preferido, ou mesmo porque lhe foi solicitado que não cantassem tantas músicas de um mesmo “ministério” (de 6 do repertório, se cantavam 5 de um mesmo ministério).
É hora de crescer, abandonar o triciclo, as barras da camisa do tio Ted e virar crente maduro.
No meu coração, quero ser puro. No meu entendimento quero crescer dia após dia. Meu anseio mais sincero é que o leitor queira isso em seu coração. Vamos sair da sonolência?
“Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.” (Ef 4.13-14)
“Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém.“ (2 Pe 3.18)
Toda honra e glória ao Senhor!
Fonte: Napec