“E dizeis ainda: Eis aqui, que canseira!…” Malaquias 1.13a
“Se não ouvirdes e se não propuserdes, no vosso coração, dar honra ao meu nome, diz o Senhor… Eis que reprovarei a vossa semente, e espalharei esterco sobre os vossos rostos, o esterco das vossas festas solenes; e para junto deste sereis levados.” Malaquias 2.2-3
Na antiguidade grega surgiram algumas escolas de pensamento filosófico que foram conhecidas como sendo os cínicos, os céticos, os estóicos e os epicuristas.
Os cínicos pregavam que a virtude seria encontrada no despojamento. Para ser feliz o homem, assim como os cães, precisaria de bem pouco. O mais famoso dos cínicos em um dado momento vivia em um barril. Os cristãos em geral não são dados ao despojamento, e geralmente pregam que o problema não está no dinheiro, mas no amor ao dinheiro. Para esta reflexão os cínicos não nos interessam.
Os céticos pregavam que a virtude seria encontrada no desfrutar da vida, uma vez que não existiria verdade absoluta, tudo seria relativo, dependendo da ótica de cada um. O homem então tinha mais que curtir a vida, pois a “única verdade” seria a de que não existem verdades. Os céticos eram reféns da própria concepção filosófica, pois se fosse “verdade” o que os céticos estavam falando, então nem mesmo o pensamento cético estaria correto pois até mesmo a “vedade cética” seria relativa e portanto uma mentira… Era como andar em círculos. Os cristãos em geral não são céticos e costumam ser “donos da verdade”, cada grupo cristão pode variar na sua interpretação do que seja cristianismo, mas uma vez posicionado, costuma acreditar na verdade que apregoa. Para esta reflexão os céticos não nos interessam.
Os estóicos pregavam que a virtude seria encontrada na resignação. Para ser feliz o homem deveria se resignar e enfrentar com coragem e honra as circunstâncias que a vida lhe ofereceria. Quando as coisas iam bem os estóicos eram felizes, já quando as coisas iam mal e o cidadão se via num beco sem saída, geralmente a saída estóica recomendada como mais digna e honrada era o suicídio.
Os cristãos em geral não costumam ser resignados, muito pelo contrário, quando as coisas apertam, geralmente se tornam mais piedosos e “reclamam” de Deus um posicionamento favorável. Para esta reflexão os estóicos não nos interessam.
Os epicuristas já nos interessam bastante…
Os cristãos de hoje, mesmo sem saber, em geral são epicuristas.
Os epicuristas pregavam que a virtude e a felicidade seria encontrada no prazer.
Se alguma coisa dava prazer, então ela era legítima e deveria ser procurada e desfrutada.
Se por outro lado alguma coisa não dava prazer, poderia ser descartada sem problema algum.
A medida de todas as coisas passava pela bitola do “Isto me dá prazer?”, e dependendo da resposta o homem agia e era supostamente feliz.
Muitos supostos cristãos que eu conheço são na realidade epicuristas.
Se o casamento dá prazer ao indivíduo então ele continua casado, se não dá mais prazer e a paixão supostamente acabou, então separam e vão em frente.
Se o culto dá prazer, então é um bom culto e uma “benção” (como se diz), mas se o culto for mais introspectivo e “chato”, então está na hora de reclamar ao pastor ou mesmo trocar de igreja para desfrutar de um culto mais “prazeroso”.
O cara vai à igreja para se divertir, esquecendo-se de que deve ir lá para oferecer adoração.
Em lugar de reverência e adoração, ele vai ao culto irreverentemente e da maneira mais “legal” e divertida possível, vai ao culto “desfrutar Deus”.
Como o receber (a benção) é o que está na sua mente, fica evidente que se sente frustrado quando o culto não é divertido.
O pastor deve ser adepto de uma pregação “neurolingüística evangelical” e francamente seguidor do discurso de auto-ajuda para que a pessoa então depois de ouvi-lo, se sinta motivada a pensar que é importante, que poderá seguindo algumas técnicas encontrar a felicidade durante a semana.
Deve o pastor preparar um sermão que seja bem humorado e que tenha intercalado do mesmo algumas piadas inteligentes para que a igreja caia na gargalhada por diversas vezes durante o sermão, e saia do culto com a “alma descansada”.
Pregar arrependimento seria uma falha gravíssima, afinal, o cristão epicurista não pensa que vai ao culto para “apanhar”, nem mesmo para ser chamado de “pecador miserável”, ele vai lá para ouvir sermões do tipo que faz o jogo do contente da Pollyana e só fale de preferência do amor de Deus para com criaturas boazinhas como ele se acha.
Ler a Bíblia só quando são poemas, salmos e histórias interessantes, mas quando o texto fica mais pesado ou difícil de entender… Então não dá mais prazer e deixa-se a leitura de lado e parte-se para um autor mais interessante e mais ligado com os problemas do homem moderno.
Oração? Dá prazer? Se for aquela que os outros possam olhar, e você ali em público de braços erguidos derramando lágrimas e o pessoal ao teu redor pensando…
Vejam como ele é espiritual… Estas então valeriam a pena. Mas aquela oração diária e metódica, lá no oculto da noite… Sozinho no quarto… Esta nem pensar….
Estudo bíblico sistemático? Muito chato… Melhor ler caixinhas de promessas e guias de auto-ajuda cristãos de autores famosos.
Teologia sistemática…? De forma alguma! É muito chato ficar lendo e relendo e harmonizando a Bíblia para entender a verdade… É muito chato e a preguiça não deixa tais cristãos ir muito além do que recitar alguns chavões decorados.
Enfim, as idéias do epicurismo encontraram vasto campo na cristandade moderna.
Tudo o que não dá prazer é deixado de lado, sejam casamentos problemáticos, esposas feias e envelhecidas, criação de filhos, estudo bíblico, oração costumeira, evangelização de amigos e conhecidos, etc e etc…
E então?
E você?
O que regula a tua vida cristã é o prazer ou o que está escrito nas Escrituras?
Tua fé está baseada nos ensinos dos Profetas e dos Apóstolos, ou estaria ela mais para uma minestra evangelical de epicurismo humanista cristianizado?
Para muitos, quando perguntados se são cristãos ou não, seria muito mais sincero responder: Não sou cristão, eu sou um epicurista gospel…
“MUITOS me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: NUNCA VOS CONHECI; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.” Mateus 7.22-23