Entre os que se professam “cristãos”, há três pontos de vista em relação à morte de Cristo. Crê-se que Cristo morreu por uma das seguintes razões:
1. Por todos os pecados de todos os homens;
2. Por todos os pecados de alguns homens;
3. Por alguns pecados de todos os homens.
A terceira razão deve ser incompatível a todo cristão, pois, se a propiciação cobriu somente alguns pecados, então todos teríamos pecados não cobertos e terminaríamos condenados irremediavelmente.
A segunda razão é chamada às vezes de o ponto de vista “calvinista” e ensina que há uma salvação eficaz para somente algumas pessoas eleitas.
A primeira razão é a idéia de uma propiciação universal. Esta tem certos problemas lógicos, porém pelo fato de a maioria dos cristãos não se sentirem cômodos com a idéia de uma salvação pela metade (a terceira razão), e não quererem admitir que Deus é o que decide quem deles serão salvos e quem não, então se contentam em crer que Cristo morreu por todos os pecados de todos os homens.
O problema está em explicar como é que muitas pessoas cujos pecados foram propiciados, finalmente terminam no inferno. Se Cristo morreu por todos os pecados de todos os homens, então todos os homens, sejam budistas, muçulmanos, hindus, católicos, protestantes, etc., devem ir ao céu.
Alguém pode contestar que a resposta ao problema é a falta de fé ou, em outras palavras, a incredulidade. Porém o problema aqui é que a incredulidade é também um pecado, e é o mais horrível de todos os pecados.
Se Cristo morreu por todos os pecados, então morreu pelo pecado da incredulidade também. Porém se morreu para propiciar todos os pecados menos o da incredulidade, então estamos dizendo que morreu somente por alguns pecados de todo o mundo. Porém se Cristo morreu por todos pecados, e se morreu por todos os homens, então morreu por todos os pecados de todos os homens, incluindo a incredulidade deles.
No fundo, o problema que temos, que não nos deixa resolver o dilema com a doutrina da propiciação, está ligado com nossa filosofia moderna relacionada com o homem e seus “direitos”. O lema político moderno nos tem pregado liberdade, comida e educação para todos. Por causa disso, a idéia de um Deus que é o fator determinante de tudo não é bem aceita pelo homem moderno. Tem sido ensinado nas escolas que não se deve tolerar distinções de pessoas nesta vida, e por isso supomos que não deve haver distinções de posições na vida espiritual. Se cremos na liberdade para todos no mundo, porque não crer na propiciação para todos para ir ao céu?
Porém Deus não governa o universo como uma democracia. A salvação, ao contrário da liberdade política, não é um direito que podemos reclamar. O grito “dêem-nos uma oportunidade a todos por igual” é um lema bonito para ser apresentado em um motim político. Porém não deve se dizer isso diante de Deus. Não nos acercamos ao Soberano do universo como cidadãos que demandam direitos. Nos acercamos como rebeldes violentos, réus dignos de morte e insolentes; que temos pisoteado Sua vinha, atacado Seus obreiros, e assassinado a Seu Filho. Não há sequer um de nós que mereça ser perdoado; e se Deus fosse perdoar a alguns dos culpados, poderiam os outros culpados queixar-se?
Aos homens não se tem dado uma “oportunidade” de salvar-se. Em vez de dar-lhes oportunidades, é-lhes dada a graça. Recebem de Deus “graça”, não “direitos”. Nós devemos permanecer maravilhados ante tão grande misericórdia. Porém alguns soberbamente demandam que Deus dê a graça a todos por igual. Porém Deus não está sujeito à constituição de nenhum país.
A Bíblia nos diz, antes da morte de Cristo, que Ele viria para “salvar Seu povo de seus pecados”. Durante Seu ministério na terra, Ele proclamou constantemente que havia vindo para um grupo especial de pessoas, que Ele chamou Suas “ovelhas”, que são distintas de outras que não são ovelhas (veja João 10).
Fonte: Monergismo