Considere o seguinte exemplo hipotético:
Amanhã você irá até uma sorveteria e escolherá entre vários sabores de sorvete.
Pois bem, por este simples exemplo, veremos que a presciência divina exclui o livre-arbítrio humano, e o livre-arbítrio humano exclui a presciência divina. Não há como os dois co-existirem.
Se Deus é presciente, se Ele sabe de antemão qual você escolherá, isso significa que você não fará, de forma alguma, uma escolha diferente. Se Ele sabe que você escolherá chocolate, então você escolherá chocolate. Não há a mínima possibilidade de você escolher morango ou creme, pois se fosse possível escolher algo diferente do que Deus previu, a presciência de Deus seria falha, e Deus não seria presciente de fato. Aquilo que Deus previu, inevitavelmente deve acontecer. Neste caso, então, a presciência de Deus destrói o livre-arbítrio humano.
Por outro lado, se você tem livre-arbítrio, isso significa que você é completamente livre para fazer qualquer escolha a qualquer tempo. Com o livre-arbítrio, sua decisão é soberana e imprevisível, e não há como Deus conhecê-la de antemão. Ele poderia prever, por exemplo, que você vai escolher morango, mas até o momento exato em que você fará a escolha, sua decisão pode mudar, e mudar até várias vezes, pois você é totalmente livre para isso. Você poderá escolher baunilha ou amendoim, frustrando assim a previsão de Deus. Neste caso, o livre-arbítrio humano destrói a presciência divina.
Portanto, não há como conciliar estas duas crenças opostas entre si: a presciência divina e o livre-arbítrio humano. Ou Deus conhece o futuro ou não conhece; e se Ele conhece, o futuro é inalterável. Portanto, não há como ser arminiano; não há como afirmar que Deus conhece o futuro por simples previsão, pois eventos livres não podem ser previstos. Ou você aceita a soberania de Deus sobre o arbítrio humano como ensinada pelo calvinismo, ou você cai no erro do teísmo aberto, que ensina que Deus não conhece totalmente o futuro e pode mudar de ideia conforme as circunstâncias.
Talvez aqui você esteja pensando: “tudo bem, eu concordo que não é possível prever um evento livre, mas no caso de Deus é diferente, pois Ele pode todas as coisas”. Sim, é verdade que Deus pode todas as coisas, mas somente todas as coisas logicamente possíveis. Deus é lógico, nEle não há contradições ou paradoxos. Ele não pode fazer uma reta torta, nem criar uma pedra tão pesada que Ele mesmo não possa levantar. Ele não pode contradizer-se afirmando e negando algo ao mesmo tempo e no mesmo sentido. Essa impossibilidade de contradição, porém, não nega a onipotência de Deus, antes a afirma.
Portanto, é impossível que Deus preveja um evento livre, porque eventos livres são logicamente imprevisíveis. Da mesma forma, é impossível que um evento seja livre se Deus o previu. Um evento previsto infalivelmente é um evento predeterminado, e não pode ser alterado.
Então, das duas possibilidades (calvinismo e teísmo aberto, pois já demonstramos que o arminianismo é auto-contraditório) qual está de acordo com a Bíblia? O que ela ensina? Que o homem tem livre-arbítrio e que suas ações são imprevisíveis? Ou que Deus conhece o futuro e que, consequentemente, o homem não tem livre-arbítrio?
Vejamos:
“Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade; que chamo a ave de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o homem do meu conselho. Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei.” [Isaías 46:9-11]
A Bíblia é clara, Deus conhece previamente o futuro. Portanto, o teísmo aberto está excluído. E quando afirmamos que Ele conhece o futuro, não nos referimos à mera presciência passiva, pois isto não existe, mas ao Seu decreto ativo. Ou seja, Deus sabe o futuro porque Ele decretou e tem o controle sobre os eventos.
Em outras palavras, Ele sabe o que ocorrerá porque Ele próprio fará ocorrer.